DÚVIDA. CRENÇA. FÉ.

Suas colocações sempre fundadas, com assento na acuidade, por isso importantes, aliadas à sua seriedade, necessitam resposta compatível.

Meu maior defeito ou virtude é a franqueza, naquele a impositividade que não arrefece, busca meios de esclarecer, se esforça mesmo que ao correr do pensamento, sem burilações, nesta o adoçamento do contraditório, mas quero ser sincero com tudo, senão não seria comigo, e assim não mereceria nem mesmo o meu respeito.

O que penso lanço nesta suma.

SÓ SE AVANÇA NA DÚVIDA.

Este o grande credo, e o próprio Cristo, Filho de Deus encarnado em Jesus de Nazaré, a deixou. Como? No livre arbítrio que se conduz pela escolha e a escolha anda em várias vias, e duvida, negaceia, recua, questiona, argumenta, pergunta, apara arestas, pesquisa, enfim, tenta avançar, e o faz, máxima ou minimamente, duvidando. A crença se firma através da dúvida, tenha fortaleza a fé ou fragilidade.

Aduz você, “em nós, a verdade margeia-se em torno daquilo em que queremos acreditar”; estupenda verdade.

Querer é escolher, e escolher é antecedido pela dúvida.

Sinaliza seu entendimento que é tese que se sustenta, sim, sem nenhuma aspereza: “quem crê em mim fará as obras que eu faço”. Nem irrelevante nem inconsistente, mas histórico e enraizado nos editos dos tempos, em tudo que se firmou como necessário para a humanidade viver em harmonia. Estão fincados os ensinamentos de quem deitou raízes didáticas no que foi ensinado aos grandes movimentos libertários, que dignificaram o homem, a revolução francesa, a convenção dos direitos humanos da ONU, e todas as legislações das nações civilizadas. São dois mil anos de regras inspiradas em quem nenhuma regra escreveu, somente em dicção mostrou o caminho a escolher mediante arbítrio, alimentado pela dúvida.

Se nosso sentimento apenas quer crer, sem nenhuma vontade de explicar materialmente, por impossível, a transcendência, já nos basta. Se nos sentimos bem por procurar o bem ensinado, universalidades irrecusáveis, se fosse só isso, já seria muito, se só tanto nos restasse. O quê mais importa?

Eu creio em uma Lei Moral e se nela creio, creio em quem ensinou-a. Me faz bem viver sob essa crença, ao arrepio dela minha consciência tocaria fortes sinos enlouquecedores. A escolha foi contingente.

E qual seria a razão de quem ensinou essa Lei ficar marcante, um pobre judeu, sem doutoramento, sem estudo, sem nada escrever? Por que ele mentiria? O que receberia em troca se pregava o mais completo despojamento. Era um louco? Esse pregão não foi acolhido pela história, ao revés, ainda que devolvido a Pôncio Pilatos, por Herodes, com as vestes dos loucos, no mais singular “conflito negativo de competência”, instituto processual ocorrente que nunca vi referido (quando dois juízes se dão por incompetentes para o julgamento), já que poderia ter apelo para Roma e não teve. Creio nesse Ser grandioso, que seria Filho, como Ele mesmo disse, do Ser Necessário que reporta a inigualável inteligência de Kant, e a quem Darwin nominou de Supremo Arquiteto. Por que esses cérebros, agnósticos e ateístas, não O negaram, mas submeteram-se a um respeito sacralizado, um pobre homem que morreu como o pior dos criminosos como definia a pena da crucificação.

A dúvida faz a escolha, a escolha faz a fé, mas se o sentimento está visceralmente ligado ao que é bom, submetido à Lei Moral de Jesus de Nazaré, Ele, Jesus de Nazaré, o Cristo histórico, é a prova que nem eu ou você precisamos, para continuar a ter fé na fraternidade, na bondade, na recusa aos desvios que necrosam nossa consciência. É isso que penso bravo interlocutor Cláudio. E por tão abrangente questionamento, coloco-o em crônica, creio também, SEM NENHUMA DÚVIDA, que estamos nesse espaço para tanto, sem pretensão. Abraço. Celso

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Caro Celso, havia escrito esse texto a uns 3 meses atrás e por algum motivo que não sei de fato qual, talvez por achar irrelevante ou puramente inconsistente, não o publiquei, mas, em ocasião de sua bem elaborada crônica, me incitou a dividi-lo aqui contigo, fica para sua sempre perpicaz e esclarecedora visão. SUSTENTAÇÃO SEM TESE... FÉ! "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai." Em que cremos de fato?... As teses para fundamentar o que se tange a tudo aquilo em que se quer acreditar, desdobram-se tanto quando o oposto, por um lado, nos agarramos à palavra transmitida para comprovar o que fisicamente não se sustentaria por falta de amparo material, seja qual for à origem ou fonte, nos concede argumentação e subsídio em prol à defesa até mesmo subjetiva para tudo aquilo onde a prova material não se fizer presente ou concreta, a força da sustentação, mediante a interpretação proposta, é que por muitas vezes definira triunfo ou fracasso no resultado conclusivo e aceitação em fim proposto. Assim, para toda a contenda que busquemos defender, em nós, a verdade margeia-se em torno daquilo em que queremos acreditar, pois, a fundamentação pode tanto pender para o material, como para a imposição imaterial por meio de elaborada explanação concretamente estabelecida dentro do plausível ou indução consistente. CONTINUA>

21/06/2014 13:32 - Cláudio A Broliani

CONTINUAÇÃO> Esqueça-se tudo o que acima foi dito, nada sustentável às vistas da legalidade inexorável a apresentação concretamente exigível de provas!... ou não?! Quando se trata de fé, elemento que determinantemente se funde ao crer, mas, de maneira equivocada na minha modesta madeira de ver, ao passo que sua manutenção independe de mesma base, tudo se torna fundamentado em fato ou sentimento!? Vejamos então: - Eu creio porque tenho fé ou seria o contrário?... Se creio, é porque acredito, onde, se pode ou não ter a certeza que provém de prova concreta. Situação que encurrala o argumento de confirmação necessária, mas, sem a prova comprobatória não seria então fé?... Já a fé embasada naquilo em que se acredita, não necessita paradoxalmente em acreditar pela certeza, pois, acreditar é crer, e fé na essência deve prover da dúvida, pois, quando se tem certeza não se necessita de fé, o que remete à entrega incondicional da vontade a exigibilidade de acreditar, que, arrastaria a fé novamente para crer. Fé é dúvida, independe de certeza na verdade concreta e sim na que reside em nós, do contrario se torna crer. Cuidemos com carinho da nossa fé, para que ela não se abrigue em veredas infaustas e nos conduza a crer sem a pureza e necessária fé! Abraço, Cláudio.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 21/06/2014
Reeditado em 26/06/2014
Código do texto: T4853561
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