TRIBUTO A NOTÁVEL PROFESSOR DOUTOR MULATO.
“A escravidão poderá desaparecer quando a
lançadeira do tear movimentar-se sozinha”.
(Aristóteles(384-322 a.C) –(profético!?).
**
O meu curso na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco(USP),tradicional ”Arcadas”,naquela noite,tudo estava diferente,quem daria a aula,era o eminente professor-doutor- titular da cátedra,em Direito do Trabalho,Antonio Ferreira Cesarino Junior,um respeitável e culto mulato alto,esguio,sério,perseverante e que não tergiversava com aluno nenhum.Educado,firme,sempre inflexível...Era super disciplinado e rigoroso.Silêncio absoluto na aula,portanto.Na sala cerca de 150 estudantes,e,ele no púlpito.Esse fato foi por volta de 1967.
Matéria que ele se doutorou com louvor era então DIREITO "SOCIAL",depois nominado, DO TRABALHO,em 1938.Já na minha época(década de 60) era assessorado com competência por duas eminentes professoras doutoras,durante todo o ano letivo.Elas davam as aulas,com o mesmo vigor.Cesarino Jr.pouco aparecia à noite,para transmitir seu talentoso conhecimento.
Autor de vários livros,artigos de Direito do Trabalho e profundo conhecedor da matéria,era natural da cidade de Campinas e, avultavam,impiedosamente, em sua pele escura de mulato,um afro autêntico,uma implacável psoríase que atingia o rosto,as mãos e enfim,todo o corpo.Mesmo assim,um afro-brasileiro,sofrendo subliminarmente, preconceitos de docentes e discentes tinha um porte imperial.Muita erudição.Era competente e zeloso no que fazia.
A classe ouvia sua preleção,com extrema atenção e respeito,e,silêncio absoluto quando,em aula magistral, de repente,o mestre Cesarino Jr.bradou:
“O senhor aí atrás...O senhor aí atrás...”
Ninguém esperava essa interrupção.Os alunos entreolhavam-se,curiosos e espantados,para saber o que acontecia...afinal.
Cesarino Junior indagou:
“O senhor aí atrás que lê jornal...Levante-se! Dê o seu nome e seu número.
Realmente,um dos últimos colegas da classe,lá no fundo, lia,silenciosamente, um jornal qualquer e, não prestava atenção à aula,estava quieto,mas Cesarino Jr.(assim era chamado) viu e parou,repentinamente a aula,depois das respostas do aluno “desligado” com seu nome e número exigidos.Do alto do púlpito Cesarino Jr.,solenemente,alto e bom som:
“O senhor já está marcado ...Estude muito...Estude muito para os exames,pois,irei acompanhá-lo até o final do curso!
Ponha-se para fora da classe...Está dispensado! Fora!”
O colega saiu...sem nada dizer.Desmoralizado.Talvez arrependido.
A classe não esperava o fato,nem o colega leitor/relapso e desinteressado.
A aula continuou normal,como se nada ocorrera e Cesarino Junior,despediu-se ao final,como se nada ocorrera.Para o professor aquilo já era escárnio,pouco caso,relaxo mesmo...
Terminei o curso do terceiro ano,da matéria de DIREITO DO TRABALHO,com a nota nove,com distinção.Não dava 10 para ninguém!!
Via na pessoa de Cesarino Junior a vitória de um homem honrado,que,para aprimorar seus conhecimentos científicos,ainda no vigor dos anos,entrou ainda bem anos atrás,como modesto estudante de medicina,no concurso vestibular,para entender profundamente melhor as causas e efeitos dos acidentes no trabalho.Matéria pertinente ao DIREITO DO TRABALHO.
Como professor-doutor estava adiante de seu tempo,já exigia dos seus alunos estágios em monografias em sindicatos,na época as chamadas “Juntas do Trabalho”,hoje, nominadas Varas, delegacia regional do trabalho,mesmo aqueles alunos que durante o dia trabalhavam,e,a rigor não tinham tempo suficiente para cumprir essa missão.Nada importava ao mestre.Isso,não sacrificou nem matou ninguém ao longo do curso...Todos sobreviveram para a formatura.Lógico,os que passavam na sua disciplina.Eis que haviam até quintanistas,sem diplomas,tentando ainda aprovação em DIREITO DO TRABALHO,matéria que era do curriculo do terceiro ano e ficavam “presos”, em dependência.Muitos desistiram.Nem se formaram...
A fama de Cesarino Jr. nas Arcadas não era unanimidade:ódio ou amor a sua pessoa e ao Direito do Trabalho.
Para Cesarino Junior: respeito era bom e ele agradecia...Faleceu em 1992.
Assim era o campineiro,Cesarino Junior,um mulato que honrou o DIREITO.Iniciou a lecionar em escolas públicas,na cidade de Campinas,onde nasceu em 1906.
Tenho orgulho de conhecê-lo e ter sido um de seus discípulos,onde mais tarde,encerrei honrosa carreira federal em Brasília,coincidentemente,no quadro permanente do Ministério Público do Trabalho...
Valeu,mestre dos mestres.
Em tempo: eu era da turma do "AMOR" a Cesarino Junior,que deixou saudades...
Não gostava também de "tapinhas nas costas"...como recente falou o ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal.
Estava certíssimo!!!
“A escravidão poderá desaparecer quando a
lançadeira do tear movimentar-se sozinha”.
(Aristóteles(384-322 a.C) –(profético!?).
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O meu curso na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco(USP),tradicional ”Arcadas”,naquela noite,tudo estava diferente,quem daria a aula,era o eminente professor-doutor- titular da cátedra,em Direito do Trabalho,Antonio Ferreira Cesarino Junior,um respeitável e culto mulato alto,esguio,sério,perseverante e que não tergiversava com aluno nenhum.Educado,firme,sempre inflexível...Era super disciplinado e rigoroso.Silêncio absoluto na aula,portanto.Na sala cerca de 150 estudantes,e,ele no púlpito.Esse fato foi por volta de 1967.
Matéria que ele se doutorou com louvor era então DIREITO "SOCIAL",depois nominado, DO TRABALHO,em 1938.Já na minha época(década de 60) era assessorado com competência por duas eminentes professoras doutoras,durante todo o ano letivo.Elas davam as aulas,com o mesmo vigor.Cesarino Jr.pouco aparecia à noite,para transmitir seu talentoso conhecimento.
Autor de vários livros,artigos de Direito do Trabalho e profundo conhecedor da matéria,era natural da cidade de Campinas e, avultavam,impiedosamente, em sua pele escura de mulato,um afro autêntico,uma implacável psoríase que atingia o rosto,as mãos e enfim,todo o corpo.Mesmo assim,um afro-brasileiro,sofrendo subliminarmente, preconceitos de docentes e discentes tinha um porte imperial.Muita erudição.Era competente e zeloso no que fazia.
A classe ouvia sua preleção,com extrema atenção e respeito,e,silêncio absoluto quando,em aula magistral, de repente,o mestre Cesarino Jr.bradou:
“O senhor aí atrás...O senhor aí atrás...”
Ninguém esperava essa interrupção.Os alunos entreolhavam-se,curiosos e espantados,para saber o que acontecia...afinal.
Cesarino Junior indagou:
“O senhor aí atrás que lê jornal...Levante-se! Dê o seu nome e seu número.
Realmente,um dos últimos colegas da classe,lá no fundo, lia,silenciosamente, um jornal qualquer e, não prestava atenção à aula,estava quieto,mas Cesarino Jr.(assim era chamado) viu e parou,repentinamente a aula,depois das respostas do aluno “desligado” com seu nome e número exigidos.Do alto do púlpito Cesarino Jr.,solenemente,alto e bom som:
“O senhor já está marcado ...Estude muito...Estude muito para os exames,pois,irei acompanhá-lo até o final do curso!
Ponha-se para fora da classe...Está dispensado! Fora!”
O colega saiu...sem nada dizer.Desmoralizado.Talvez arrependido.
A classe não esperava o fato,nem o colega leitor/relapso e desinteressado.
A aula continuou normal,como se nada ocorrera e Cesarino Junior,despediu-se ao final,como se nada ocorrera.Para o professor aquilo já era escárnio,pouco caso,relaxo mesmo...
Terminei o curso do terceiro ano,da matéria de DIREITO DO TRABALHO,com a nota nove,com distinção.Não dava 10 para ninguém!!
Via na pessoa de Cesarino Junior a vitória de um homem honrado,que,para aprimorar seus conhecimentos científicos,ainda no vigor dos anos,entrou ainda bem anos atrás,como modesto estudante de medicina,no concurso vestibular,para entender profundamente melhor as causas e efeitos dos acidentes no trabalho.Matéria pertinente ao DIREITO DO TRABALHO.
Como professor-doutor estava adiante de seu tempo,já exigia dos seus alunos estágios em monografias em sindicatos,na época as chamadas “Juntas do Trabalho”,hoje, nominadas Varas, delegacia regional do trabalho,mesmo aqueles alunos que durante o dia trabalhavam,e,a rigor não tinham tempo suficiente para cumprir essa missão.Nada importava ao mestre.Isso,não sacrificou nem matou ninguém ao longo do curso...Todos sobreviveram para a formatura.Lógico,os que passavam na sua disciplina.Eis que haviam até quintanistas,sem diplomas,tentando ainda aprovação em DIREITO DO TRABALHO,matéria que era do curriculo do terceiro ano e ficavam “presos”, em dependência.Muitos desistiram.Nem se formaram...
A fama de Cesarino Jr. nas Arcadas não era unanimidade:ódio ou amor a sua pessoa e ao Direito do Trabalho.
Para Cesarino Junior: respeito era bom e ele agradecia...Faleceu em 1992.
Assim era o campineiro,Cesarino Junior,um mulato que honrou o DIREITO.Iniciou a lecionar em escolas públicas,na cidade de Campinas,onde nasceu em 1906.
Tenho orgulho de conhecê-lo e ter sido um de seus discípulos,onde mais tarde,encerrei honrosa carreira federal em Brasília,coincidentemente,no quadro permanente do Ministério Público do Trabalho...
Valeu,mestre dos mestres.
Em tempo: eu era da turma do "AMOR" a Cesarino Junior,que deixou saudades...
Não gostava também de "tapinhas nas costas"...como recente falou o ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal.
Estava certíssimo!!!