MANAUS, AH, TENHO PENA DE TI!

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À Íris Oliveira e Paula Costa, minha sobrinha pelos seus aniversários (19/06/2014)

Manaus foi assim: banhava-se nas águas límpidas de seus mais de 130 igarapés, entre as catraias coloridas que ligavam bairro a bairro, momento em que se via a areia branca no fundo nos Igarapés do 40, Aparecida, São Raimundo, quando musculosos braços deixam ondas dos remos para trás e a catraia deslizava suave e pessoas se apressavam para sair delas depois que encostavam do outro lado. Seus calçamentos de paralelepípedos era sua marca registrada. Até ao redor do Teatro Amazonas era assim, mas recobertos por emborrachamento de látex para não atrapalhar as apresentações do espetáculo no palco!

Manaus era chamada de “Cidade Sorriso”, “Cidade Morena”, principalmente quando a cidade tinha pouco menos de 300 mil habitantes, a sua última Rua era o Boulevard Amazonas e a capital parava literalmente para ouvir a “Crônica do Dia”, na voz inconfundível de Josué Cláudio de Souza, pela Radio Difusora do Amazonas, sempre com uma música ao fundo. Crianças não podiam entrar na água, meninas com menarcas também, não podiam “para não atrair candirus”. Ouvir a “Cronica do Dia” era quase uma obrigação para se manter informado de quem aniversariava, de assuntos gerais, enfim. Ouvir o “velho” Josué, também político, virou uma espécie de religião: todos a escutavam com respeito! “Velho” Josué porque depois veio o Josué Filho, locutor e político e agora o Josué Neto, também locutor e político

Manaus foi assim: parava tudo às 11:30 horas e o comércio retornava às 14:00 hs, voltando ao “frenetismo” de suas lojas comerciais! Era o horário de os jornaleiros deixarem seus locais de trabalho e se dirigirem para “prestar contas do apurado” - entre esses, eu também – nos vários “pavilhões” ou “tabuleiros” como eram chamadas as construções que existiam em frente ao antigo Cinema Guarany, dividindo a Avenida Getúlio Vargas em duas, na Rua da Instalação, que também fazia o mesmo, no início da Rua da Instalação, na confluência com Avenida 7 de setembro. Dos mais de onze cinemas, que abriam sempre a partir das 11 hs da manhã, todos pertencentes ao empresário Adriano Bernardino!

Manaus já foi assim: bucólica, livre, leve e solta, vendo e ouvindo as horas passarem pelo Relógio Municipal, na Avenida Eduardo Ribeiro, em frente a sede da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e pela Rádio Difusora do Amazonas que não ocupou uma das salas do Edifício Palácio do Rádio, o segundo mais antigo de Manaus, na Avenida Getúlio Vargas, por razões que desconheço. Mas o nome ficou como Edifício Palácio do Rádio! Como, se nenhuma rádio ocupa o local? Mistérios da história para pesquisadores!

Atrás do Palácio Rio Negro, no Igarapé do Espírito Santo, um porto improvisado embaixo de uma árvore recebia a majestosa e imponente atracação do Barco “Senador José Esteves”, que pertencia ao Governo e era usado em viagens pelos rios do interior do Amazonas. Cadê esse barco? O que foi feito com ele? Quem o vendeu? Era em homenagem a um senador por Maués, que deixou no sangue das veias e formou uma tradicional família de políticos.

Manaus é assim, agora: uma cidade de mais de 2 milhões de habitantes, rodeada de problemas sociais e favelas por todos os lados, dependente de uma “canetada política” para manter seu modelo de desenvolvimento, quando já deveria ter encontrado seu próprio modelo, porque tempo já teve de sobra para encontrá-lo. Será que vamos ter que amargar o fim da Zona Franca para nos voltarmos às pesquisas biotecnológicas, o nosso verdadeiro futuro, cobiçado internacionalmente? Será que o embelezamento político de Manaus sem qualquer preservação de sua memória serviu para alguma coisa!?

Serviu sim! Para tornar mais ricos os que já eram ricos e transformar em mais miseráveis os que já eram miseráveis e, à custa disso, tornar Manaus uma cidade rodeada de favelas e invasões por todos os lados, fazendo me parecer o início da Revolução Industrial, uma transição político-econômica e social ocorrida entre os anos de 1820 e 1840, que mudou totalmente os rumos sociais da humanidade!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 19/06/2014
Reeditado em 19/06/2014
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