Um homem de honra
Aquilo que recebemos por certo, como certo, pode ser falso, inverso ao compromisso que celebramos com Deus e com os homens.
Napoleão Bonaparte escreveu:
“Adeus, mulher, tormento, felicidade, esperança da minha vida, que eu amo, que eu temo, que me inspira os sentimentos mais ternos e naturais, tanto como me provoca os ímpetos mais vulcânicos do que o trovão. Não te peço amor eterno nem fidelidade, apenas a verdade e uma franqueza sem limites. No dia em que disseres: “Quero-te menos”, será o último dia do amor. Se o meu coração atingisse a baixeza de poder continuar a amar sem ser amado, trincá-lo-ia com os dentes.”
Nesta reflexão sobre França, o imperador caído, nas sombras da ilha de Santa Helena, eleva o tema do amor cego pela pátria, pelo compromisso com o dever e pela dádiva maior de todas: A honra.
Quando é que um homem percebe que chegou a sua hora de se libertar das suas responsabilidades patrióticas e compreende que a sua paixão já não é correspondida?
Quando é que um homem de honra aceita deixar o seu lugar e partir, com ou sem legado? Com ou sem riqueza, mas com honra?
Merece a pátria ter um filho que a despoja, a restringe e a inunda de mediocridade ou merece um homem ser esquecido e mal-amado pela pátria para a qual deu os seus melhores anos e melhores intenções?
Qual será o animo dos governantes deste mundo que pisam os buracos das estradas, enterram as crianças subnutridas, exploram a ignorância dos analfabetos, a força e a vida dos desvalidos, a vida de tantos soldados desconhecidos?
Qual o sabor do luxo comprado com a miséria de muitos?
O compasso do relógio destes é diferente do compasso do relógio de quem vive escorraçado, sem recursos e oportunidades?
-Avante, camarada! Avante! - gritam!
Quando chegará esse dia em que os homens terão mais honra do que sede?
Como será o discurso de despedida dos desonrados, dos corruptos?
Qual será a sentença do dano causado?
Haverá alguém, nestes dias que correm, neste mundo em que vivemos, com coragem, com honra e mérito para trincar o coração com os dentes?
Julgo que não.
Acabou a estirpe dos imperadores. Acabou o tempo dos pensadores, dos lideres, dos comandantes.
Hoje somos vítimas de nós próprios, reclusos da academia mecânica que produz máquinas e nunca homens, que produz votos e nunca escolha. Que desenvolve escravizando, que dá a liberdade de existir e nunca de SER.
Hoje somos o contrário do que nos motiva e entusiasma e a culpa é toda nossa.
Um dia, talvez no último dos dias, vamos perceber que já não existe sequer coração para trincar...
Victor Amorim Guerra
in Amanhã é Outro Dia de Paulo Araújo - Rádio Luanda Antena Comercial . Angola