INVEJA SOBRE ANABAILUNE. LAMENTÁVEL.

Escrevendo sobre um dos piores pecados capitais, a inveja, mãe de todos os outros desvios de personalidade, vejo comentário de ANABAILUNE, notável poetisa em forma e fundo. Colho de sua irresignação o histórico da inveja despejada em seu indiscutível talento. Só a insuficiência deita raízes onde o mérito sobressai com sobras e muita luz, que acaba por fazer imensa sombra aos que nada são e nunca serão. Não sou crítico literário, mas tenho toda uma vida, particular e profissional, dedicada à leitura e ao ato de escrever. Posso dizer que por esse meio sobrevivi e venci, e nessa qualidade tenho razoável autoridade para externar o que penso de Anabailune e manifestei em prefácio de seu livro como abaixo transcrevo.

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QUINZE POEMAS.

Escrever sobre os sensíveis é árdua missão. São como cordas da lira que vibram e fundem-se ao entremeio dos suspiros da alma. É a sonoridade do coração. Para considerar suas obras requisita-se estatura compatível, sempre difícil, por formarem casta singular nascida sob o signo da sensibilidade que lhes marca o destino, projetando-os para a diferenciação universal. Esta faceta de adorno das personalidades invulgares, onde se insere Ana Bailune, torna necessários atavios e ornatos na apreciação de suas criações. Formalizar essa distinção é desafiadora investidura. O convite, contudo, por honrar, fortalece a vontade afastando o temor de não ficar à altura da convocação. Dizer sobre a obra de Ana Bailune é confortável. Poucos têm no verbo a correnteza fluente da dicção que envolve, como rios que levam ao mar e se abraçam na unidade. Nessa síntese coesa da proclamação da força do amor, que impulsiona e move toda a natureza, desponta marcante Ana Bailune. O rico interior de Ana Bailune tem essa exclusiva motivação. Esteio de vigor em personalidade, não esconde ser mais franca que a franqueza, o que lhe traz a condecoração dos verdadeiros, ícone do respeito, na avalanche máxima da poesia afetiva e forte, que desce como lava dos montes da emoção, convergente em generosidade e distante dos aplausos fáceis. Agigantada em reportar a vida, cresce como o vento que leva às distâncias o hino do encantamento. Emudecida de presenças queridas, tece no sofrimento a percepção das almas agudas que cantam a ausência na aleia da saudade. É real, vigorosa sem reparos vigilantes, onde vence a sinceridade, invadindo corajosamente o realismo de externar um plano de ideias que não deixa vazio o combate da desrazão. Passa ao largo da indiferença dos bons valores, antes exalta-os. É onde encontrei afinidades com sua semântica. Sustentada na razão, traços eruditos, esculpe sinalizações construtivas na singeleza que afina a forma, esmiuçando linhas no brilho em dizer, enfrentando na conformidade de suas crenças a antinomia do que rejeita, com respeito e autoridade. Sem dúvida Ana Bailunne se inscreve no portal da comunicação literária como nome em evidência. O débito da publicidade maior, credora que se faz, é como fato social não tornado norma, embora realidade a pedir tratamento devido, pois há sempre mora de temporalidade. Khalil Gibran só eclodiu no mundo um século após seu passamento. Ninguém cuja valoração persegue o bem e o amor deixa de ter reconhecimento universal, pelo caráter evidenciado em parcela da humanidade. O valor caminha em estrada difícil, mas triunfa na chegada que tarda, mas ocorre.

Ana Bailune nos brinda com leque poético desenhando o mais sagrado bem, a vida e suas vicissitudes. “O LOBO” é concentração de saudade e distância que se desfaz em paradoxo de presença constante, e encontra calma “NA ALMA”, entre o “... ficar, dizer, calar, morrer, viver, acordar, sonhar..”, que definem a densidade da poetisa, abrigada pelo clássico e insubstituível João Ribeiro, como em “Páginas de Estética”, aflorando da poesia de Ana o lacre inconfundível, como diz o mestre, da “força no estilo”. A paixão singulariza esse estilo forte adoçado pela suavidade do sentimento. No “SILÊNCIO”, refúgio dos sábios, encontra como atilada buscadora mil naufrágios, enevoados, aonde não chegam os cantos dos pássaros nem a maior das alegrias humanas, o sorriso das crianças. Reabre o passado em “RECORDAÇÕES”, visita-o como mundo de fadas, brinca com a saudade em cintilantes momentos onde o novo preside a vida na surpresa do acontecimento. Desnatura com delicadeza a eventual felicidade do anjo que resta encarcerado na inverdade do sonho em “ACORRENTADO”, e disseca os contrários em “MEU ERRO”, exuma suas partes, desnuda “FANTOCHES”, personagens lançados na procissão humana com alargada presença, préstito do indesejado, mostrando as mentiras da “NOITE”, para sinalizar em “PASSOS AMARRADOS”, a liberdade descerrada. Fica “PARA VOCÊ”, para nós, a “DIMENSÃO” de “AMARGOS DESEJOS”, do “SE SOUBÉSSEMOS”, onde se salta da condicionalidade à certeza de que pecamos, punimos a nós mesmos deixando a vida passar e os que amamos irem embora. Que se tornem brilho e indicação de caminhos de quem vive a vida na verdade e intensidade do momento, esses e os outros brilhantes lapidados no dom de Ana Bailune, que nos oferece a poesia amanhada, cuidada esmeradamente, sem esquecer passagens que deixam pegadas do sonho, da autenticidade em ser, da razão que não perde consciência, iluminadas criações, rico esmalte da alma.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 18/06/2014
Código do texto: T4849156
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