A Redação Segundo C.L.
A prova será daqui a pouco. Minha vida, ainda que em parte, será decidida por essa prova. Que caminho seguirei – por ora não sei. É tudo algo novo, um devir que me toma a paz, a tranquilidade, o sossego. Pensei que ainda fosse ontem. Entre na festa dos números e das palavras. Meu universo é descrito como uma vida que se trilha em estudos. Minha tara, meu gosto por perder-me em um investimento desses. A minha história se confunde com a história da minha história. Eu tenho que dizer que não sei. Que não sou. Que estou tentando ser. Que desejo entender tudo e a todos. E ser compreendido. Mas... ser compreendido não pode provocar um comprometimento do eu que ainda há em mim? Digo, será que não poderei sofrer por, ao ser compreendido, tornar-me comum, médio? Fugir disso – até quando? A prova virá. Se der tudo certo, o produto da prova proverá. O poético lado da problemática da vida. A vida por ser. A hora da prova. A hora da escolha. Decisões e desafios. Preciso de tino. De dar forma ao meu destino. De criar. De criar e recriar. De recrear durante a santa ceia das questões. Essas, essas perguntas que dialogam conosco. Que nos fazem pensar em nossa vida. No jogo de nossa vida. Na dívida de vivermos cada segundo, cada minuto, cada momento. Cada coisa em seu lugar – até conhecer seu não lugar e tornar-se a não-coisa, no momento indecidível da morte. De deixar de ser. A morte, temo, tem seu lado poético. Trágico, sim, mas poético. Porque lida com os lados da vida que ninguém pensou direito ainda. A morte, lamento lembrar, é parte da vida. É conhecimento novo. É desconhecimento novo. É coisa que desfaz. É ausência presente. Um momento escuro que clareia, com sua branca sombra, a nossa existência. É dor – e nojo. É fim – e?
E eu tenho que dizer que espero por essa prova. Por essa vinda do outro a dialogar comigo. Por esse momento de testar a mim mesmo. Por esse espaço de tempo que buscará apontar meus conhecimentos em algumas disciplinas e seus eixos. E eu tenho que dizer que, preparado ou não, deverei permanecer até o fim. Porque só assim terei entendido um pouco mais de mim. Terei, enfim, minha história para contar. Terei pensado se passei: terei passado? Pensarei. E pesarei – os resultados. Onde terei errado? Onde – como e por que – acertei?
Um momento de claridade – onde? Nalgum canto de nossas vidas há vida que bate em nosso peito – a despeito de nossa falta de jeito em lidar com tantas batidas, com tantas topadas que damos na vida. A prova – o que prova ela? O que ela nos diz? O que dirá sobre nós – sobre tudo sobre nós?
E eu tenho que dizer. E eu sei dizer. E eu sei dizer que não sei se sei dizer o que tenho que dizer. E... Faço a prova antes de sua chegada. Fiz a prova em âmbito espiritual – caso contrário, não estaria aqui. Não poderia ter vindo aqui. Até quando, penso, poderei fugir de mim? De meus sonhos? De meus desejos de vencer? De chegar até onde mais quero e poder servir? (Pois mesmo aqueles que ocupam cargos importantíssimos servem a alguém. Ninguém deixa de servir. Apenas os imundos vagabundos, os inválidos verdadeiros, aqueles que, gozando de plena saúde, sem portar qualquer tipo de deficiência física ou mental, vivem às custas dos outros. Esses, lembremos, não servem para nada. [...])
Mas voltemos, pois. Onde eu parei mesmo? Ah, sim. É verdade. Tem sido verdade: e a prova? Que prova será? Não é tanto uma questão de responder a prova, mas de decifrá-la em cada questão, de entender o que cada questão espera da gente. Como lidamos com situações problematizadas em forma de questões de prova. De exames como esse. Mas e eu agora?
E eu quero dizer que há tanto por ser dito. Por ser lembrado. Por ser esquecido. Por ser... silenciado. Mas não. Não mesmo. Não pararei por aqui. Não.
Wellington V. Fochetto Junior