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A DOR DA VELHICE
O poeta, tradutor e jornalista gaúcho Mário Quintana escreveu este poema chamado “Envelhecer”:
Antes, todos os caminhos iam.
Agora, todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
Perfeito, não?
Agora que ela já me abriu as portas, continuo mais do que nunca, tentando entender quais os motivos que levam alguém a elogiar a velhice. Não aprecio aqueles que fazem isso, já que tais afirmações são deslavadas mentiras em relação a uma tragédia anunciada. Considero a velhice o maior castigo para a humanidade. É como se chegasse a hora de pagarmos todos os nossos pecados. Poucos escapam do diabetes, da hipertensão, das dores reumáticas, das doenças cardíacas, da catarata, do colesterol e, talvez ainda em menor escala, do Alzheimer. E, a cada médico que se vai, ao final da consulta ouvir dele um “está tudo bem e volte somente daqui a um ano”, considere uma vitória. Além de tudo, perdemos a fisionomia e o espelho passa a ser um inimigo mortal.
E ainda tem o pior, que é quando se começa a depender dos outros, principalmente quanto à locomoção. A cada avanço tecnológico, ser velho tornou-se sinônimo de xingamento e até de piadas, quando não se consegue manusear com desembaraço as parafernálias eletrônicas que hoje fazem parte do nosso dia a dia. Você também começa a sentir os olhares de impaciência dos mais jovens se demora um pouco mais para realizar algum movimento, alguma ação ou até mesmo tomar uma atitude, como fazer alguma compra, por exemplo. Se for algo eletrônico, então, arme-se de calma, pois os vendedores sempre acham que você não sabe nada, comparando-o a uma ameba. Outrora, a velhice era uma dignidade: hoje ela é um peso.
É preciso ser muito calhorda para chamar a velhice de melhor idade. Isso só pode ser coisa de gente que acredita que vai virar semente.
O poema de Quintana é a exatidão do momento do estar velho, quando valorizamos como nunca o nosso canto acolhedor e os fantasmas passam a nos fazer companhia constante, e não apenas na hora do chá. É quando também pouco se vai, pois as coisas (os caminhos de Quintana) passam agora a vir.
Por tudo isso, eu sempre digo que nenhuma palavra, nenhuma frase e nenhuma ação é capaz de minimizar as tristezas e as melancolias da velhice. E que me desculpem aqueles que tentam esconder essa realidade.
Antes, todos os caminhos iam.
Agora, todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
Perfeito, não?
Agora que ela já me abriu as portas, continuo mais do que nunca, tentando entender quais os motivos que levam alguém a elogiar a velhice. Não aprecio aqueles que fazem isso, já que tais afirmações são deslavadas mentiras em relação a uma tragédia anunciada. Considero a velhice o maior castigo para a humanidade. É como se chegasse a hora de pagarmos todos os nossos pecados. Poucos escapam do diabetes, da hipertensão, das dores reumáticas, das doenças cardíacas, da catarata, do colesterol e, talvez ainda em menor escala, do Alzheimer. E, a cada médico que se vai, ao final da consulta ouvir dele um “está tudo bem e volte somente daqui a um ano”, considere uma vitória. Além de tudo, perdemos a fisionomia e o espelho passa a ser um inimigo mortal.
E ainda tem o pior, que é quando se começa a depender dos outros, principalmente quanto à locomoção. A cada avanço tecnológico, ser velho tornou-se sinônimo de xingamento e até de piadas, quando não se consegue manusear com desembaraço as parafernálias eletrônicas que hoje fazem parte do nosso dia a dia. Você também começa a sentir os olhares de impaciência dos mais jovens se demora um pouco mais para realizar algum movimento, alguma ação ou até mesmo tomar uma atitude, como fazer alguma compra, por exemplo. Se for algo eletrônico, então, arme-se de calma, pois os vendedores sempre acham que você não sabe nada, comparando-o a uma ameba. Outrora, a velhice era uma dignidade: hoje ela é um peso.
É preciso ser muito calhorda para chamar a velhice de melhor idade. Isso só pode ser coisa de gente que acredita que vai virar semente.
O poema de Quintana é a exatidão do momento do estar velho, quando valorizamos como nunca o nosso canto acolhedor e os fantasmas passam a nos fazer companhia constante, e não apenas na hora do chá. É quando também pouco se vai, pois as coisas (os caminhos de Quintana) passam agora a vir.
Por tudo isso, eu sempre digo que nenhuma palavra, nenhuma frase e nenhuma ação é capaz de minimizar as tristezas e as melancolias da velhice. E que me desculpem aqueles que tentam esconder essa realidade.
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