(Ver)Balizar

É tão estranho saber ouvir quando o que se precisa é falar. As pessoas já estão tão acostumadas com o jeito introspectivo que tenho de me abrir (ou seria de me fechar?), que se eu insinuar que estou com dor de dente, por exemplo, imediatamente alguém vai dizer que também está, vai começar a se lamentar e pronto. Passou o meu momento e o meu direito de reclamar do meu dente. Automaticamente mordo as reticências, engulo de volta e me submeto a ser quem sempre fui. Certamente por isso, recorro sempre ao subterfúgio das letras expostas assim, crônicas. Sutilmente vou desenhando meus desencantos com verbos, pronomes e algumas figuras de linguagem. Longe de ser uma queixa às queixas que recorrem aos meus ouvidos, de certa forma elas também cabem nas minhas vírgulas. Mas tão somente, minha maneira silenciosa de fazer algum barulho. É inegável a funcionalidade de antibiótico que isso tem contra minhas tais dores de dente. E a funcionalidade indispensável que tenho de me expor em metáforas.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 15/06/2014
Reeditado em 15/06/2014
Código do texto: T4845587
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