Será que vale a pena?

Saber que Éder Jofre, o maior nome do boxe brasileiro, está se alienando do mundo e de si mesmo, provavelmente devido a tantos golpes que levou em sua gloriosa carreira, leva-me a perguntar: será que vale a pena praticar certos esportes? O ex-pugilista, que um dia inspirou respeito e temor aos adversários, hoje nada mais inspira que piedade. Ele tem lembranças esparsas de seus tempos áureos, dificuldades para realizar tarefas básicas e depende dos filhos para ter uma vida digna em seus últimos anos.

Segundo os cientistas que estão estudando o quadro do legendário atleta, ele é uma provável vítima de um mal outrora conhecido como demência pugilística e ao qual hoje chamamos encefalopatia traumática crônica, no qual o cérebro se deteriora em consequência de vários golpes e traumatismos. Ela costuma atingir os praticantes de pugilismo e futebol americano e pode ter acometido o capitão da seleção brasileira campeã de 58, o inesquecível Bellini, que foi pioneiro no gesto de erguer a taça acima da cabeça com as duas mãos e morreu sem lembrar que criara um gesto que ficara para a posteridade e fora capitão da seleção que conquistara o primeiro título para o Brasil. Inicialmente, Bellini foi diagnosticado com Alzheimer mas, devido ao fato de que ele cabeceava muito, há suspeitas de que ele tenha sido vítima da encefalopatia.

E alguém lembra de Maguila? Ano passado, ele foi diagnosticado com Alzheimer. Será que Maguila, com apenas 54 anos, não é mais uma vítima dessa doença proveniente de tantas lesões que o cérebro sofre porque o atleta se expõe a golpes violentos. No final, de que valeu toda a glória que Éder Jofre e Bellini conquistaram?

E, se essa doença acomete quem sofre traumas violentos na cabeça, pensemos no que poderá ser o futuro de tantos famosos lutadores de MMA da atualidade. Hoje, eles são chamados de heróis, famosos e tidos como vencedores. Que será deles amanhã? Estarão dementes, sem lembrar do que conquistaram no passado?

Vale a pena conquistar tanta glória, fama e fortuna se o preço que se paga é tão alto? É uma pergunta que deve ser feita porque, calculando bem os riscos, será quase inevitável que o cérebro se degrade com tantos ferimentos sofridos continuamente que, um dia, provocarão danos de efeito permanente.