Santantonho da apracatinha
Valha-me, meu Santantonho da apracatinha, como diziam os itabaianenses, conterrâneos da minha mãe. Hoje é dia desse santo que mais ficou famoso entre nós pelos seus méritos de cupido. Mas, não estou pedindo a ajuda do santinho nesse particular. Estou chamando o santo português e querido dos brasileiros por outros motivos. Trata-se do show de abertura desta Copa do Mundo de 2014. Deixei os meus quefazeres para sentar no sofá com familiares e ver, na TV, o tal do show. No mesmo instante em que começou já fui sentindo a mancada (deles, dos donos da festa) e a contrariedade e decepção (nossa). Pensei assim: é o comecinho, logo haverá um instante em que tudo tchan tchan tchan. Passavam-se os preciosos minutos de expectativa e aquilo só piorava. Aquelas auracárias claudicantes e muito escuras, aquelas samambaias fora de propósito, aquela canoa que mais parecia uma urna fúnebre sendo carregada. Aquela bolota a nos desafiar a imaginação, sem que se pudesse distinguir se era bola, coco ou algo mais. Eu até pensei que a presidenta Dilma estivesse escondida dentro daquela coisa. Aqueles espaços vazios, aqueles bailarinos desarticulados em torno daquele totem que, ao se abrir, virou algo parecido com um coco cortado em partes. Só que o meio era uma coisa mais parecida com um carretel desses que enrolam fios de telefonia. Então julguei que fosse medida de economia e essas coisas da sustentabilidade. E, a gente olhando aquela bolota estranha. Tem que se ser justo e dizer que se não fosse pela beleza de Cláudia Leite e da Jennifer Lopez, não se teria aproveitado coisa alguma. A retirada foi mais feia ainda e, por último, lá ia o pobre índio estilizado passando na sua canoa caixão de defunto, nadando no seco. O suspense marcou o tempo inteiro, pois, acredito que muita gente estava esperando o que aconteceria, como seria a abertura, se alguém discursaria, se a presidenta seria forte mesmo e enfrentaria aquela turba. Foi tudo mais para o simples, menos pelo composto de péssimo gosto de pessoas vociferando frases que, pelos idos dos sessenta, só seriam ouvidas no baixo meretrício, mas no baixo mesmo, naquelas casas caindo aos pedaços, nos cantos de ruas escuras e escusas. Jamais em famosos cabarés como aquele da novela, o da obra de Jorge Amado. Aquele seria hoje quase uma igreja, a não ser pela beleza e sensualidade das mulheres, vocês já repararam que, em igrejas, é raro mulher assim, nesse perfil? Exceto em dias de casamento, digamos assim. Sim, Santantonho, me diga o que foi aquilo. Algum pagamento de pecado? Quando avistei aquela boneca de cabaça, rodopiando, fiquei ainda mais atrapalhada. Que bonequinha mais feiinha! Aquela casa não, não é, Santantonho?As nordestinas em seus vestidos murchos me fizeram indignada, pois vejam todos por aí, pela Internet, que maravilhosos vestidos estão envergando as dançarinas de quadrilhas pelo Nordeste inteiro. Estamos agastadas com aquilo lá no estádio onde se pretendeu fazer uma festa. Festa para Belga ver. Brasileiro não faz aquilo não, jamais, nunca. Tudo nosso é lindo, pergunte ao baiano Caetano. Aqui pra nós e depois pro mundo, meu querido Tontonho, que cara enjoado aquele mandão da Fifa. Esse merecia muita vaia, só pra saber quem manda aqui. Só não apoiaria mandar ele fazer o que mandaram a Dilma. Isto não. Desculpe, Antônio santo, falar dessas feiuras na sua presença, mas me diga, por último, quem merece uma abertura daquela? Ainda vem o atrapalhado jogador, o Marcelo, e mete um gol ao contrário. Ainda tem um juiz oriental que deixou em dúvida quanto à penalidade marcada, dando vez aos portenhos de também chamarem os brasileiros de ladrões. Santantonho da apracatinha, ainda bem que aquele danadinho do Neymar conseguiu fazer algo pra que a gente não ficasse mais triste. Nem o resultado do jogo deu pra esquecer daquela coreografia para belga ver.