A MESINHA QUE JÁ ESTAVA LIMPA
Todos os dias quando meu pai chega do trabalho, automaticamente e sem checar antes, solta a frase: Ninguém limpa a minha mesinha! Só que ontem houve uma controvérsia, eu havia limpado e limpado bem, diga se de passagem!
Então, em alto e bom som, gritei: Eu limpei a sua mesinha, tanto que, organizei todos os objetos em ordem decrescente, olhe. Meu pai olhou, e comprovou com os olhos que a terra há de comer.
Seu sentimento não soube bem descrever, mas havia um mix de vergonha misturado com uma vontade imensa de cavar um buraco e ficar lá por algumas horas, talvez, dias.
Na cozinha, minha mãe não se aguentava de rir, se sua risada falasse, falaria o seguinte para o meu pai: Bem feito! Quem mandou não observar antes de falar?! Falta de conselho não é, pois minha mãe cansa de avisar ao meu pai que quando não se tem nada para falar o melhor é ficar calado.
Depois do momento muy constrangedor, meu pai tenta disfarçar mudando de assunto, ele diz para minha mãe: Estou precisando comprar algumas calças. Conhece alguma loja com um bom preço? (A tentativa foi boa, o problema é que meu pai é péssimo para disfarçar).
Mas uma coisa ficou clara: a vergonha opera milagres, pelo menos a do meu pai, sim. Pois, hoje cedo, ao voltar do banho, encontrei meu quarto limpinho. Esta é a forma de meu pai mostrar seu arrependimento. Agora, o que me resta é torcer para que este arrependimento dure, pelo menos por alguns longos meses.