AS MÃOS DE MAMÃE
Não tinha consigo maldade alguma. Apenas bondade, compaixão, brandura, paz e serenidade.
Madrugada de dor, de angústia, foi quando para sempre perdi o amparo de suas mãos.
Suas mãos eram macias como o veludo, seus gestos leves, pareciam falar.
Hoje, são pálidas e tão frias como lírios solitários.
Lembro que você ficava no portão de casa, acenando-me até que eu desaparecesse na esquina.
Suas mãos guiaram-me como velas à flor de um lago escuro.
Ampararam meus primeiros passos, mãos suaves e pacienciosas que me ensinaram as primeiras letras.
Mãos bem feitas foram de meus sonhos mornos, brandos ninhos.
Hoje são inertes e frias, já não aninham meus sonhos, não guiam meus passos, não acenam mais.
Inertes como aves adormecidas, para acordar em outras vidas.
Em casa, o vazio da sua ausência. Somente o eco do seu riso gostoso e o som da sua voz em meus ouvidos ficaram.
Aqui, à sombra das paineiras você repousa.
Raras manchas brancas, vermelhas e azuis, enfeitam a quietação deste jardim feito de silêncio e saudade.
Tudo é silêncio e paz, a brisa que agita meus cabelos é suave como as sua mãos. O farfalhar das folhas agitadas pelo vento é como o sussurrar de seus lábios.
Onde quer que esteja, eu grito mesmo sem voz:
Ainda amo você mamãe. Ainda amo você.
(fevereiro/1986)