AS MÃOS DE MAMÃE

Não tinha consigo maldade alguma. Apenas bondade, compaixão, brandura, paz e serenidade.

Madrugada de dor, de angústia, foi quando para sempre perdi o amparo de suas mãos.

Suas mãos eram macias como o veludo, seus gestos leves, pareciam falar.

Hoje, são pálidas e tão frias como lírios solitários.

Lembro que você ficava no portão de casa, acenando-me até que eu desaparecesse na esquina.

Suas mãos guiaram-me como velas à flor de um lago escuro.

Ampararam meus primeiros passos, mãos suaves e pacienciosas que me ensinaram as primeiras letras.

Mãos bem feitas foram de meus sonhos mornos, brandos ninhos.

Hoje são inertes e frias, já não aninham meus sonhos, não guiam meus passos, não acenam mais.

Inertes como aves adormecidas, para acordar em outras vidas.

Em casa, o vazio da sua ausência. Somente o eco do seu riso gostoso e o som da sua voz em meus ouvidos ficaram.

Aqui, à sombra das paineiras você repousa.

Raras manchas brancas, vermelhas e azuis, enfeitam a quietação deste jardim feito de silêncio e saudade.

Tudo é silêncio e paz, a brisa que agita meus cabelos é suave como as sua mãos. O farfalhar das folhas agitadas pelo vento é como o sussurrar de seus lábios.

Onde quer que esteja, eu grito mesmo sem voz:

Ainda amo você mamãe. Ainda amo você.

(fevereiro/1986)

Zulema Costa Mello
Enviado por Zulema Costa Mello em 12/06/2014
Código do texto: T4842541
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