MANICURE MATA MENINO
“Manicure mata menino e esconde o corpo numa mala!” Essa é a terrível manchete estampada num jornal de grande circulação do Rio de Janeiro e foi ela quem tomou o tempo inicial no meu local de trabalho, com conversas, discussões e opiniões. Logicamente que foram todas de grande revolta e nojo. Ficamos chocados! Como uma mulher consegue fazer isso? Matar? E ainda por cima, matar uma criança? Um inocente? Qual foi o motivo? Uns falam que a assassina era amante do pai do menino; outros que ela somente queria dar um pequeno susto no garoto; outros ainda que essa mente diabólica pertence a uma louca. Maligna! Que mulher dos infernos! Tudo isso foi comentado em nosso grupo de trabalho, pois a revolta era enorme!
E a pergunta que não queria calar era: por quê?
Se perguntássemos a psicólogos, psiquiatras ou afins talvez tivéssemos como resposta de que eles não tentam explicar porque alguns indivíduos são perversos ou suas psicopatias. Eles irão estudar as raízes que podem ser genéticas ou adquiridas, tentando dessa forma auxiliar o indivíduo e suas famílias. Trabalham dos dois lados. Infelizmente em nosso país, não existem investimentos para que, nas escolas, por exemplo, haja um profissional capacitado para com olhar diferenciado, observar as crianças que dependendo da situação, é claro, já dão mostras de suas tendências. Se assim fosse muitas seriam acompanhadas, tratadas, e não chegariam à idade adulta desta forma, e causar os traumas que causam à sociedade.
Se perguntássemos a policiais, advogados, juristas? O que diriam? Talvez respondessem que os crimes hediondos são crimes que estão no topo da pirâmide de desvalorização criminal, devendo, portanto, ser entendidos como crimes mais graves, mais revoltantes, que causam maior aversão à coletividade e cuja lesão é acentuadamente agressiva, com um potencial extremamente ofensivo.
E se perguntássemos a nós, pobres mortais, simples donas de casa, estudantes, cidadãos do mundo? Foram essas perguntas que nos atormentaram pela manhã, o que nos deixou abatidos, envergados, trêmulos e com o coração apertado.
Foi assim que iniciamos os trabalhos numa linda manhã que poderia ter passado em branco e feliz, em paz, sossegada, sem atropelos, divergências, ruídos e interferências. E é assim que inicio essa crônica que poderia ter sido com um assunto ameno, tranquilo e sereno, mas depois dessa matéria dramática tornou-se impossível já que ficamos sinceramente abalados. Temos coração e sentimentos! Não tem como alguém não ficar alterado com essa notícia escabrosa!
Esse ato do mal foi apenas um dos inúmeros casos terríveis que acontecem. Já foram tantos que até vamos ficando acostumados com essa selvageria: maníaco do parque; filha que manda o namorado matar os pais; madrasta e pai que joga a enteada/filha pela janela do apartamento; ex-namorado que mata e joga o corpo da amada no rio; goleiro que manda matar a ex-namorada e entrega seus restos mortais aos cães, porque ela o estava incomodando com várias insistências de cobrança de pensão; esposa que mata marido, o esquarteja e esconde seu corpo numa mala; médica que comete eutanásia, e muito mais. Essa enorme violência não acontece apenas no Estado vizinho ou na região nordeste ou lá para os lados do RS, bem distante daqui.
A violência acontece aqui. Bem próxima a nós. Temos medo de sair de casa. Transformamos nossa casa numa jaula, mas mesmo com grades temos medo de sair e não retornar! Medo por nós, por nossos filhos, medo do trânsito violento, medo até de nos aproximar-nos das pessoas, medo de apertarmos as mãos, medo de contágio... Muito triste.
Triste, mas não irreversível. Ou será que é? Poderemos ter esperança de dias melhores, aprazíveis e pacatos? Quero crer que sim! Tenho uma disposição de espírito que me induz que uma coisa boa há de se realizar. Deverão ser sucessões de acontecimentos bons, apaziguadores, pacíficos e ordeiros! Quem não quer acreditar atire a primeira pedra! Estaríamos no paraíso se pudéssemos recolher toda essa merda espalhada pelo ventilador.
Chega de violência! Vamos dar um basta, a começar pela nossa casa, nosso lar, nossos vizinhos de porta, de condomínio, vizinhos da mesma rua e do mesmo bairro. Chega de cara feia e mal humor. Vamos cumprimentar as pessoas com sorriso e boa vontade, sem carranca, rosto carregado e sombrio, cara de mau humor. Até esse simples ato é extremamente difícil para muitas pessoas!
Volto logo, com um assunto mais “light”!
Simone Possas Fontana
(escritora gaúcha de Rio Grande-RS, membro correspondente da
Academia Riograndina de Letras, autora dos romances: MOSAICO e
A MULHER QUE RI)
Minhas anotações:
- Crônica escrita em 2013, Campo Grande-MS.
- Publicada no blog: simonepossasfontana.wordpress.com.br