Genivaldo já devia estar aposentado, no entanto, graças aos seus conhecimentos, ainda desfrutava de uma cômoda posição na repartição pública, onde passara grande parte de sua vida. Chegava sempre alguns minutos atrasado e não fazia nada antes do cafezinho, que se prolongava num bate-papo sem fim. Os assuntos eram os mais variados, mas futebol era o seu forte. Conhecia todos os jogadores, seus grandes feitos e seus fracassos. Era uma pessoa bondosa e não fazia mal a ninguém. Passava o dia “enrolando” com uma pilha de livros sobre a mesa dando, a quem chegasse, a impressão de que era um homem muito ocupado. Dr. Paulo, recém- chegado àquela repartição, não se sabe até hoje o porquê, não gostou de Genivaldo, desde o primeiro dia. Começou procurando alguma anormalidade no trabalho, mas, é claro, não encontrou. Afinal só erra quem faz e Genivaldo não fazia absolutamente nada. Naquele fim de semana o doutor Paulo foi para casa imaginando um meio de fazer alguma coisa para perturbar Genivaldo e, na segunda-feira, veio com a novidade. - De agora em diante, Genivaldo, você vai escrever aqui nesse livro preto, o nome de todas as pessoas que trabalham na empresa. Pega aqui dessas fichas e faz uma lista. O velho funcionário, que sempre fora uma pessoa calma, informou que essa lista já estava no computador e que em três tempos estaria sobre a mesa do chefe.
- Não, não – disse o chefe – eu quero tudo manuscrito.
Genivaldo não entendeu tamanha estupidez, mas não queria perder aquele seu emprego. Afinal prezava muito aquela oportunidade de estar entre os colegas e não em casa, dividindo as tarefas domésticas com a esposa.
- Tudo bem, chefe. Em poucos dias tudo estará pronto.
Naquela noite não conseguiu dormir direito. Revirava-se na cama se perguntando a causa daquela rejeição do chefe por ele. Não encontrando resposta resolveu encarar o desafio. Trabalhou duro naquela tarefa inglória e, antes do prazo previsto, entregou o livro com todos os nomes.
- Não, meu caro! Quero tudo em ordem alfabética – exclamou o chefe.
Genivaldo teve vontade de arrancar-lhe a língua e enrolá-la no pescoço até enforcá-lo, mas os anos de vida lhe disseram que nada melhor do que a calma.
- Pois não, doutor, vou refazer o trabalho.
A cada vez que apresentava o trabalho, o chefe, “carrasco” como era conhecido agora, inventava uma nova história. Genivaldo, depois de várias semanas, começou a perder a paciência. À noite comentou com sua velha esposa, leitora assídua de contos de magia negra, o que estava acontecendo na repartição.
- Eu – disse ela – se fosse você, aprontava alguma coisa pra esse tal de doutor Paulo.
Genivaldo pensou bastante para ver por onde poderia começar o seu plano. Ficou horas na cadeira de balanço, até que teve uma ideia brilhante. Relatou seu plano, detalhadamente, para sua esposa que se animou em ajudá-lo na vingança.
Sabendo que o chefe era uma pessoa supersticiosa, bolou um episódio que já estava lhe dando prazer só de imaginar. Relatou os detalhes do plano para a esposa que o aprovou totalmente. Começaram a agir. Numa cumbuca de barro, que utilizava para tomar sopa de cebola nos dias frios, colocou terra preta do vaso de planta que enfeitava a mesa. Cobriu tudo com uns fios de seda, dando a impressão de teias de aranha. Pegou, de uma caixa onde guardava quinquilharias, quatro balas de revólver usadas em 1940, quando teve que espantar um ladrão de galinhas, e espetou-as na terra, formando uma cruz. Arranjou um pires no qual colocou um pouco de açúcar. No dia seguinte levou toda a parafernália para a repartição e colocou dentro do armário, cuja porta, proposita-damente, deixou entreaberta. O chefe, que além de supersticioso era de uma curiosidade fora do comum, vendo a cumbuca dentro do armário, foi verificar do que se tratava.
- Cuidado, patrão! Não mexe nisso aí não pelo amor de Deus! Assustado o chefe perguntou o que era aquilo.
- Não é nada não, chefe. É que eu ontem fui ao terreiro do pai Tomás e ele me disse que tem alguém, que vive perto de mim, que anda querendo me prejudicar. Então ele me mandou arrumar essas coisinhas e deixá-las sempre perto de mim. A pessoa que tentar me fazer mal pode ir diretamente para o cemitério, de onde tirei essa terra. Pode também ser vítima de tiros, como mostram essas quatro balas. Pode, ainda, morrer de diabetes, daí o açúcar. De todo modo ela vai ficar enredada que nem essa teia de aranha, por algum tempo, antes de o pior acontecer.
Eu- para lhe dizer a verdade – espero que esse infeliz caia na real, como diz meu neto, e me deixe em paz. Naquela noite o doutor Paulo não pregou o olho. No dia seguinte chegou à repartição com umas olheiras profundas e os bajuladores de plantão lhe perguntaram, o dia inteiro, por sua saúde. No final da tarde ele foi direto procurar um médico. Uma série de exames lhe foi solicitado. Dois dias depois ele soube que estava com um pequeno aumento de glicose no sangue. Nada que merecesse preocupação, mas para ele era como se carregasse uma usina de açúcar dentro do organismo. Agora vive tentando ser amigo de Genivaldo, que lhe aconselha toda sorte de chás para curar diabetes. O velho funcionário voltou a viver em paz, sem nenhum remorso. Ele nunca acreditou em feitiços e macumbas, e mesmo que acreditasse, não era capaz de fazer mal nem a uma mosca. O tal de doutor Paulo não tem mais tranquilidade e perdeu totalmente a vontade de implicar com quem quer que seja.
- Não, não – disse o chefe – eu quero tudo manuscrito.
Genivaldo não entendeu tamanha estupidez, mas não queria perder aquele seu emprego. Afinal prezava muito aquela oportunidade de estar entre os colegas e não em casa, dividindo as tarefas domésticas com a esposa.
- Tudo bem, chefe. Em poucos dias tudo estará pronto.
Naquela noite não conseguiu dormir direito. Revirava-se na cama se perguntando a causa daquela rejeição do chefe por ele. Não encontrando resposta resolveu encarar o desafio. Trabalhou duro naquela tarefa inglória e, antes do prazo previsto, entregou o livro com todos os nomes.
- Não, meu caro! Quero tudo em ordem alfabética – exclamou o chefe.
Genivaldo teve vontade de arrancar-lhe a língua e enrolá-la no pescoço até enforcá-lo, mas os anos de vida lhe disseram que nada melhor do que a calma.
- Pois não, doutor, vou refazer o trabalho.
A cada vez que apresentava o trabalho, o chefe, “carrasco” como era conhecido agora, inventava uma nova história. Genivaldo, depois de várias semanas, começou a perder a paciência. À noite comentou com sua velha esposa, leitora assídua de contos de magia negra, o que estava acontecendo na repartição.
- Eu – disse ela – se fosse você, aprontava alguma coisa pra esse tal de doutor Paulo.
Genivaldo pensou bastante para ver por onde poderia começar o seu plano. Ficou horas na cadeira de balanço, até que teve uma ideia brilhante. Relatou seu plano, detalhadamente, para sua esposa que se animou em ajudá-lo na vingança.
Sabendo que o chefe era uma pessoa supersticiosa, bolou um episódio que já estava lhe dando prazer só de imaginar. Relatou os detalhes do plano para a esposa que o aprovou totalmente. Começaram a agir. Numa cumbuca de barro, que utilizava para tomar sopa de cebola nos dias frios, colocou terra preta do vaso de planta que enfeitava a mesa. Cobriu tudo com uns fios de seda, dando a impressão de teias de aranha. Pegou, de uma caixa onde guardava quinquilharias, quatro balas de revólver usadas em 1940, quando teve que espantar um ladrão de galinhas, e espetou-as na terra, formando uma cruz. Arranjou um pires no qual colocou um pouco de açúcar. No dia seguinte levou toda a parafernália para a repartição e colocou dentro do armário, cuja porta, proposita-damente, deixou entreaberta. O chefe, que além de supersticioso era de uma curiosidade fora do comum, vendo a cumbuca dentro do armário, foi verificar do que se tratava.
- Cuidado, patrão! Não mexe nisso aí não pelo amor de Deus! Assustado o chefe perguntou o que era aquilo.
- Não é nada não, chefe. É que eu ontem fui ao terreiro do pai Tomás e ele me disse que tem alguém, que vive perto de mim, que anda querendo me prejudicar. Então ele me mandou arrumar essas coisinhas e deixá-las sempre perto de mim. A pessoa que tentar me fazer mal pode ir diretamente para o cemitério, de onde tirei essa terra. Pode também ser vítima de tiros, como mostram essas quatro balas. Pode, ainda, morrer de diabetes, daí o açúcar. De todo modo ela vai ficar enredada que nem essa teia de aranha, por algum tempo, antes de o pior acontecer.
Eu- para lhe dizer a verdade – espero que esse infeliz caia na real, como diz meu neto, e me deixe em paz. Naquela noite o doutor Paulo não pregou o olho. No dia seguinte chegou à repartição com umas olheiras profundas e os bajuladores de plantão lhe perguntaram, o dia inteiro, por sua saúde. No final da tarde ele foi direto procurar um médico. Uma série de exames lhe foi solicitado. Dois dias depois ele soube que estava com um pequeno aumento de glicose no sangue. Nada que merecesse preocupação, mas para ele era como se carregasse uma usina de açúcar dentro do organismo. Agora vive tentando ser amigo de Genivaldo, que lhe aconselha toda sorte de chás para curar diabetes. O velho funcionário voltou a viver em paz, sem nenhum remorso. Ele nunca acreditou em feitiços e macumbas, e mesmo que acreditasse, não era capaz de fazer mal nem a uma mosca. O tal de doutor Paulo não tem mais tranquilidade e perdeu totalmente a vontade de implicar com quem quer que seja.