HISTÓRIAS DOS FRANCOS

Vou contar algumas histórias dos meus antigos, para que não se percam na poeira do tempo.

Um dia viajando de carro, sozinho, ao entardecer, liguei o rádio na Bandeirantes num programa esportivo e humorístico "Na Geral", estavam entrevistando o multi-artista Moacir Franco. Sempre ouvi que ele tinha um galho na nossa árvore genealógica, desconfiava da veracidade, ninguém quer ter parente pobre, feio, burro, mas famoso, com talento, divertido todo mundo quer.

Até que um personagem do programa, Seu Charuto falou: Vocês sabem que a família do Moacir, os Francos, é cheia de pessoas que gostam de fazer brincadeiras entre eles? Pregar peças um nos outros? Gostam de lutar entre eles. Não tive duvida, Moacir Franco é parente.

No programa, tentaram fazer gozações com ele, mas ele dava volta nos entrevistadores.

Então, inspirado por este episódio resolvi contar as histórias que ouvi sem me preocupar se houveram.

Minas Gerais é onde se encontra as raízes mais profundas da família Franco.

Segue a história que ouvi de uma viagem: prepararam dois carros de bois, entre as traias, muito queijo, café torrado e outros mantimentos para ajudar aos que hospedariam, pois o número de visitantes era grande. A senhora com os filhos menores se acomodavam no carro de boi, os filhos maiores ora no carro ora a cavalo ou mesmo andando, pois a marcha bovina era morosa. Não havia restaurantes pelo caminho, o pessoal a cavalo ia a frente providenciar o almoço em casa de algum parente. Onde tinham nascentes, açudes, rios e cachoeiras com poços onde fosse possível nadar a parada era obrigatória, pois os Francos eram como patos, não resistiam a uma água. Apanhavam laranjas nos pés a beira da estrada mesmo com marimbondos, era outra paixão da família. Todos os parentes e amigos próximos a direção tomada eram visitados, cafezinho sempre tomado com as duas mãos, uma para a xicara e a outra com uma quitanda mineira, pressa nenhuma.

Quando chegaram ao destino foi uma alegria só, providenciaram banho para todos, acomodações para dormir, a conversa se estendeu pela madrugada, coisa rara, pois o costume era dormir com as galinhas. No primeiro dia, após a chegada, era de descanso para os viajantes, do segundo para frente era aplicado o ditado dos Francos – “Primeiro dia visita, depois eito”.

A noite, depois de contada as histórias, tinha o culto doméstico, cada um falava um versículo bíblico, os mais preguiçosos recitavam “Jesus Chorou” os pais bravos mandavam recitar outro: “Deus é amor”. Nos domingos, o culto matinal, os filhos mais espirituais eram os pregadores, algumas meninas cantavam corinhos na frente.

Todos cooperavam na lida da casa e até nos mutirões da roça. Se fosse época de milho verde a festa era completa no fabrico de pamonhas, bolos e curais. No inverno o trabalho consistia nas confecções de cobertores, aí tinham que tosquiar os carneiros, lavar as lãs e cardá-las e depois fiar. Um trabalho de equipe com muita alegria e troca de experiências. À noite, em redor a taipa do fogão de lenha rolava histórias e estórias indistintamente.

A visita durava semanas, depois de algumas tantas os visitantes resolveram levantar acampamento, arrumaram as tralhas para sair logo de manhã. Ao despertar, o ritual de despedidas, as crianças chorando não querendo ir, os casais de namorados se separando ( talvez aqui esteja a explicação de tantos casamentos entre primos Francos) as promessas de se verem brevemente ...Depois puseram os carros de boi no lento movimento bovino, logo a frente, uma porteira a saída do terreiro da sede, ao passar o último carro e fechar a porteira, ouviu-se um troar tremendo de foguetes, eram os parentes que hospedavam comemorando a retirada dos visitantes.

Os visitantes não deixaram por menos, logo que foi possível viraram os carros de boi e voltaram, justificando o retorno para atender aqueles pedidos usuais nas despedidas, - Já vão? Ainda é cedo? Fiquem mais...Ficaram mais dois dias, por simples pirraça e desta vez não teve foguetório.

Defranco
Enviado por Defranco em 12/06/2014
Reeditado em 10/03/2024
Código do texto: T4842334
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