Esse fatídico 12 de Junho

Era de amargar. Além de não ter namorada em pleno Dia dos Namorados, ele também não gostava de futebol em pleno dia da abertura da Copa do Mundo no Brasil. Desde pequeno foi assim: era o último escolhido para os times na escola, era o último na preferência das mulheres. Agora juntaram as duas coisas no mesmo dia e ele não sabia onde se esconder. Se pelo menos o chefe tivesse aceitado o seu pedido para antecipar as férias! A essa altura estaria fora do Brasil, talvez nos Estados Unidos, que não dá a mínima para o futebol e onde o 12 de Junho não significa nada, já que eles comemoram o Dia dos Namorados em fevereiro. Mas quis o destino que ele passasse esse dia fatídico no país da Copa.

A princípio tentou fazer de conta que era um dia comum. Iria ao trabalho normalmente, como sempre fazia, apenas evitando participar das rodinhas com os colegas. Colocou o fone de ouvido e ligou o rádio do celular, mas não foi uma boa ideia: além de darem notícias da partida do Brasil a cada instante, estavam aproveitando a data para sortear duas cortesias do Motel Cê Que Sabe.

Mas o pior foi quando terminou o expediente, uma hora antes do jogo. Não deixaram que ficasse lá trabalhando. E ele não podia nem mesmo ir para casa, pois conhecia bem os vizinhos que tinha e sabia que podia esperar muita gritaria e foguetório. Se ele já não suportava isso normalmente, imagine em uma noite de fossa como prometia ser aquela! Não podia nem ao menos se enfiar em um cinema, porque os shoppings fecham antes do jogo e não voltam mais a abrir.

Por um momento pensou se não seria melhor tomar um comprimido para dormir, um tão forte que nem um grito de gol seria capaz de despertá-lo. Mas como conseguir isso àquela hora, se até as farmácias já estavam fechadas? Era desolador. E pensar que aquele era só o primeiro jogo do primeiro dia de Copa!

Em seu desespero, pensou até mesmo em se jogar nos trilhos do metrô. Mas aí se lembrou que os metroviários estão em greve.