Torcer e namorar

Há poucos dias me perguntaram o que penso sobre a copa do mundo ser sediada no Brasil e, se eu irei torcer pela nossa seleção. Não precisei pensar, nem analisar a situação antes de responder, discordei imediatamente ao saber da confirmação de que a copa de 2014 aconteceria em meu país. Não concordo com nada do que tenha sido feito ou dito em defesa desta “jogada” diplomática, política e totalmente incabível para o momento e a situação caótica em que encontra-se a nossa sociedade.

Entretanto, antagonicamente, se a resposta ao primeiro questionamento foi NÃO, a do segundo foi SIM. Não sou hipócrita em afirmar que não vou torcer pela nossa seleção.

Numa analogia barata, eu diria que não torcer pela seleção brasileira por conta das sem-vergonhices dos governantes do país, seria o mesmo que não crer mais em Deus por discordar das diretrizes dos dirigentes da igreja na qual fui batizada.

Torcerei pela nossa seleção sim, senhores. Nenhum radicalismo é forte o suficiente para anular certos sentimentos adquiridos ainda no berço. Eu não tinha a menor ideia do que era futebol, quando via meu pai e minha mãe pararem todos os seus afazeres para gritarem em frente à televisão com os homenzinhos vestidos de verde e amarelo, para que eles acertassem o caminho e levassem a bola até a rede. Agora não vai ser diferente.

Por coincidência, o primeiro jogo do Brasil caiu bem no dia dos namorados trazendo uma mistura de emoções que, certamente, farão todos os corações pulsarem de um jeito diferente.

E por falar em coração, assim como esta copa do mundo, namorar tens seus prós e contras. Aliás, embora as campanhas comerciais ilustrem a data com os coraçõezinhos vermelhos da paixão e romantismo, o que se vê no dia a dia dos casais é um pouco diferente.

Sou uma namoradeira convicta, gosto de ter com quem confidenciar meus anseios, trocar ideias sobre projetos profissionais e viagens inusitadas. Gosto de ter em quem pensar , para quem me arrumar e contesto quando ouço falarem que a mulher se arruma para as outras mulheres. Me arrumo para mim, pensando nele.

Gosto de companhia para ir ao cinema, para ir ao shopping, para ir ao supermercado, ainda que ele só aprecie o primeiro item da lista, gosto da incompatibilidade que me faz ter pressa na hora das compras, mas me permite passar pelo caixa de mãos dadas.

Gosto de ter para quem ligar no meio da noite para falar sobre o sonho que acabei de sonhar. Gosto de ser acordada nas primeiras horas da manhã para receber uma mensagem de bom dia, com frases de amor e malícia. Gosto de dormir junto, de roubar o cobertor e brigar pelo pé descoberto.

Gosto de acordar com alguém, preparar o café da manhã e fazer disto a minha rotina e não um momento romântico qualquer. Gosto de receber o café na cama e sujar a camiseta (cadê o pijama?) de doce de leite que escorreu da banana.

Gosto de dizer “eu te amo” e que este alguém não seja parente ou amigo. Gosto de ouvir eu “te amo” de quem me dá tesão.

Gosto de ter alguém disponível que, por mais que tenha compromissos , me tenha como favorita em sua agenda.

Quem mais se encaixaria nesta minha lista de delícias do que um namorado?

Você deve estar pensando: e da lista dos contras, esqueceu? Não, eu não esqueci, aliás, também gosto de avisar a quem acha que namoro é só coraçõezinhos vermelhos: você vai se dar mal.

Para namorar é preciso ter saco, paciência, inteligência, maturidade, autocontrole...E esta não é uma tarefa só do outro, é sua também.

Namorar as vezes irrita, incomoda, sufoca, e, admito, que até desperta aquela vontade de ser ímpar e viver sozinha para sempre. Mas,exatamente, as diferenças e, consequentemente, a instabilidade é que instigam, excitam, incendeiam.

Assim como à seleção brasileira, desde muito pequena, eu amo estar apaixonada, independentemente dos contras, portanto, neste dia 12 eu vou torcer e namorar.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 12/06/2014
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