A COPA
 
    A copa vai começar. Se nas minhas veias se aquece meu sangue verde e amarelo fazendo-me acreditar e torcer pelo sucesso da Seleção, por outro lado meu ceticismo teima em me arrefecer os ânimos.
    Reluto em entregar-me de corpo e alma ao afã de esguelar-me em gritos esganecidos na esperança que esse meu gesto impulsione o escrete canarinho para cima do adversário na conquista da vitória.
    Sou do tempo em que estádio de futebol era chamado de estádio mesmo. Hoje a denominação é arena. Jogador de futebol virou gladiador e o adversário parece que virou inimigo pois os jogos são cada vez mais violentas. Quem se lembra da elegância do Falcão e do Sócrates tanto no futebol refinado quanto na figura esguia do corpo? Não era necessário vigor físico para jogar e sim sutileza e genialidade.
    Antigamente jogador ficava invariavelmente no clube que o projetor até o fim da carreira. Recordo-me do Baiaco do Bahia que recusou propostas consideráveis de clubes grandes pelo amor a camisa tricolor. E outros tantos exemplos por aí. Hoje em dia o jogador inicia o ano num clube beijando o escudo e logo após o campeonato estadual já está beijando o escudo de outro time na competição nacional. Isso quando não muda de equipe na mesma competição. E beijando o escudo de toas as equipes por onde passa. Isso é amor a camisa? Para mim não passa de mercenarismo.
   A CBF era CBD, juiz de futebol era juiz mesmo e não árbitro e os auxiliares eram bandeirinhas. O time era formado pelo goleiro, lateral direito, dois zagueiros centrais, lateral esquerdo e o cabeça de área. Dois jogadores no meio-campo, um com a responsabilidade de ajudar a defesa e o outro apoiava o ataque (um exemplo magnífico foi o Gérson) e por fim o ponta direita, o centro-avante e o ponta esquerda. Como era maravilhoso o futebol antigamente!
    Em outros tempos meses antes do início da Copa os torcedores, inclusive as crianças já tinham os nomes dos jgadores na cabeça e o treinador selecionava quem realmente estava em condições de representar o País e não por imposição de patrocinadores. Tem jogadores na atual seleção que eu nunca nem ouvi falar o nome mas é patrocinado pela NYKE e como essa empresa é uma das patrocinadoras da FIFA logo se deduz como isso acontece. Lucra a NYKE, a FIFA, a CBF e os próprios jogadores.
    A Seleção, no que pese hoje ser um antro de mercenários e poucos patriotas, é apenas uma cortina de fumaça que encobre as bandalheiras e canalhices da FIFA, da CBF e do Governo. Todos ganham. Todos lucram. Os jogadores também, afinal a Seleção é a vitrine para contratos milionários. Pergunto: Quantos jogadores estão hoje na Seleção que jogariam sem ganhar nenhuma compensação financeira? Já se foi o tempo em que jogador jogava pelo amor a camisa do clube e do País. Tudo isso é lamentável. Torço sim para que ganhe. Torço, afinal é uma das poucas alegrias que o povo ainda tem.
    Não vou falar do governo e seus interesses financeiros na construção de estádios milionários em detrimento de escolas e hospitais. Tudo isso é prova cabal da desonestidade de nossos governantes. Bem lembro o governo Figueiredo quando foi oferecida uma Copa do Mundo ao Brasil e o general que comandava o País respondeu: Vocês conhecem uma favela do Brasil? Conhecem a situação das escolas e da saúde? Como vou gastar dinheiro construindo estádios para a realização de uma Copa se não tenho dinheiro para resolver os problemas do povo? A mercenária Dilma nem pensou duas vezes. E o povo que se foda.
    De resto, é aproveitar os feriados proporcionados pelos jogos, descansar e assistir os jogos em família com a esperança de que a Seleção de mercenários proporcione pelo menos alegria ao povo tão sofrido.
    Que o povo seja feliz com as vitórias da Seleção. Que o Brasil seja vencedor dessa Copa. Pelo menos momentaneamente esqueceremos nossas mazelas e compartilharemos momentos de alegria.

 

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Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 11/06/2014
Reeditado em 11/06/2014
Código do texto: T4840654
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