Renascer

Às vezes tenho vontade de morrer. Morrer de fato e de direito, só pra ver como é o outro lado da rua. Mas quando penso que não poderei voltar, fico com a pulga atrás da orelha... aí, morro de tédio. Assim vou levando a vida ora para a direita, ora para a esquerda, procurando uma possível saída.

Viver é uma arte para alguns mutantes. A maioria das pessoas caminham pela vida como se trilhassem os labirintos de um matadouro onde as partes são expostas: dependuradas nas ilusões e nos sonhos de rara profundidade.

Sempre vou ao mercado, a padaria e até mesmo ao cemitério para ver as pessoas nas suas molduras mais simples – os quadros são quase sempre os mesmos. Nesses compartimentos fico tentando imaginar o que elas estão maquinando ou articulando em seus momentos de reles mortais. Vejo que algumas, as mais desafortunadas pedem esmola estendendo as duas mãos. Outras as mais tímidas, imploram com olhos de vidro um minuto de nossa atenção. Outras, a maioria, fazem de conta que são gente e outras e mais outras (as que não estão neste contexto)... pouco ou nada fazem. Isto tudo é muito louco, cadavérico mesmo! Chego a perceber no ar o cheiro de defunto quando fecho os olhos, sinto que somos mortos-vivos... meus Deus! Será que estou morto e não estou sabendo?! Certamente não, mas a sensação neste momento é esta.

Até as relações humanas me parecem esgotadas, com lampejos empobrecidos pelo uso exagerado de conceitos sem compromisso com a realidade que nos propomos viver.

Ah meu amigo, me ajude a morrer! Preciso ressuscitar para a vida. Não para a vida eterna, este é um privilégio dos Imortais, mas para a vida do amor, da esperança, da graça de ser enquanto ente soberano, enquanto amante e amado no sentido verdadeiro da palavra. Só assim serei Um e não metade de dois apodrecidos.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 10/06/2014
Reeditado em 03/10/2017
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