LER/DORT – MAZELAS DOS PROFESSORES
Fala-se muito sobre questões da Educação formal no Brasil, sabemos, entretanto, que pouco se faz por ela. Não há novidade nesta afirmativa, também sabemos. Apenas uma lembrança aqui rememorada, porque falar sobre o fato tornou-se já um enfadonho repetir de tecla.
Trago à tona, novamente, o problema das doenças adquiridas no decorrer da carreira profissional dos professores, fato que foi por mim relatado neste Site no artigo intitulado PROFESSORES DOENTES/ SÍNDROME DE BURNOUT / FALTA DE ATENÇÃO DAS AUTORIDADES COMPETENTES E DA SOCIEDADE, que se encontra em minha escrivaninha.
Quando escrevi o artigo em referência, nada dos sintomas nele apontados eu tinha. Todavia, era uma preocupação que me ocorria, ao ver tantos colegas combalindo sem o apoio necessário, este que deveria ser ofertado pelos órgãos administrativos, por intermédio das Secretarias de Educação espalhadas pelo país, logicamente, passando pelo interesse médico-forense.
Especificamente falando, as Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) é fato recorrente nos quadros profissionais da Educação e, conceitualmente, a legislação brasileira discrimina possibilidade de perícia técnica, médica ou de qualquer outra natureza, apenas na evidência da chamada “materialidade permanente”, isto é, nas situações em que perduram substratos fáticos passíveis de análise especializada, conforme trabalho coordenado pelo Dr. Milton Helfeinstein Jr. – Assistente Doutor da disciplina de Reumatologia das universidades UNIFESP/EPM.
Seria necessário que se aprofundasse o tema, o que não é objetivo deste texto de abordagem rápida, enquanto crônica. Fica claro, porém, que os médicos deparam-se com mais um desafio em sua complicada tarefa de diagnosticar e decidir sobre a saúde e, por que não dizer, a vida das pessoas. Além do diagnóstico, nas moléstias ocupacionais, eles precisam dar a definição do nexo causal. Isso lhes impõe grande responsabilidade, pois devem pautar-se por condutas imparciais com ampla fundamentação científica.
Então, pergunta-se: como provar a dor do outro? Assim segue a caminhada do doente por repercussões jurídicas, nexos administrativo, causal e técnico, bla bla bla.
Tudo escrito acima, apenas para chegar ao gatilho desencadeador desta, digamos, crônica.
Pois é, voltei do médico (especialista de mão) com outra órtese, porque a anterior não deu resultado. Agora, o polegar totalmente imobilizado. Pergunto: É fácil fazer qualquer coisa com o polegar imobilizado? Eu, na minha santa ignorância, achei que fosse. O médico, com sua boa intenção, disse que eu poderia segurar o giz com as "pontinhas" dos dedos e escrever na lousa.
Passadas as boas intenções, tentando a prática com apenas quatro dedos, aqui matutando, interrogo-me: com "as pontinhas" de quais dedos? O polegar não chega ao indicador, eu sou destra, portanto... nem posso mostrar como são três pessoas correndo atrás de um queijo, ou três outras correndo atrás de um coco na ribanceira, para o especialista. Assim, escrever na lousa, babau.
Eis o prêmio de trinta anos de profissão: artrose pelo excesso de movimentos repetitivos e fenda nas cordas vogais. Reclamar? Jamais! Apenas penso nas experiências de vida e, com certeza, a esta altura do campeonato, tentarei ser canhota, porque como disse Adélia Prado, "mulher é desdobrável. Eu Sou."
Dalva Molina Mansano
10.06.2014
11:02
Fonte: Aspectos Médico-Legais. O Fenômeno LER no Brasil. Lesões por Esforços Repetitivos. Coord. Dr. Milton Helfeinstein Jr.