Minha avó está com Alzheimer
Ontem, eu fui celebrar, com três dias de atraso, o aniversário de 87 anos da minha avó materna, que é minha única avó viva e que, há algum tempo, tem dado sinais de estar com o mal de Alzheimer. Embora eu já soubesse,os sinais de sua demência não haviam sido tão perceptíveis para mim até então. Pude perceber que ela não é mais a mesma e que sua memória e entendimento do mundo que a cerca estão falhando logo no caminho para a casa da minha prima. Um outro primo, a filha de um primo, a minha tia e minha avó vieram de carro buscar minha mãe e eu e nós ainda não havíamos saído do nosso bairro e minha avó perguntou: "Já estamos no Ponto dos Cem Réis?"
Depois, na casa da minha prima, ela se atrapalhou com os nomes de parentes, perguntou que dia era e se atrapalhou ao lembrar momentos de sua vida. Isso não perturbou o andamento da festa, que correu muito bem, mas, pela primeira vez, pude sentir o drama da minha avó. Foi como se ela estivesse se distanciando de nós, perdendo-se num labirinto do qual não sairá, porque, quando uma pessoa começa a perder sua memória, a gente sabe que é um caminho que não terá volta. A medicação pode atrasar os efeitos do Alzheimer, mas não evitará que, um dia, a pessoa acometida pelo mal se perca dentro dela mesma, esquecendo de tudo e de todos os que fizeram e fazem parte da sua vida.
Pergunto-me como é, para alguém, perder-se daqueles que são sua carne, seu sangue e com quem tem laços de afeto. Para mim, que apenas posso assistir, é como se a pessoa nunca tivesse vivido o que viveu, amado quem amou. Todas as suas lutas, vitórias e momentos marcantes perdem o sentido para ela, porque não fazem mais parte da sua memória.
O que é um ser humano sem a memória daquilo que, afinal, é a história da sua vida, família e, portanto, faz parte dele mesmo? Não sei nada disso porque, na verdade, eu não sei quase nada da vida e morrerei sabendo pouco. Sei apenas que, para nós, que conhecemos minha avó, é questão de aprendermos a lidar com a nova pessoa que ela está se tornando, tendo que nos adaptar a suas necessidades, sendo compreensivos com os momentos em que ela estiver insuportável e entendendo que amor envolve estar junto com alguém quando ele mais precisar, ainda que ele não lembre mais quem somos.