A dois graus de Chico Buarque
Modéstia à parte, sou amigo de um amigo do Chico Buarque. Isto é, ele não é exatamente meu amigo: troquei apenas algumas palavras com Daniel Cariello e ele me presenteou com o seu divertido livro de crônicas. E ele também não pode ser considerado exatamente um amigo do Chico Buarque: apenas jogou umas peladas contra o time dele em Paris. Em todo caso, já é mais do que suficiente para que eu, levando em conta a teoria dos seis graus de separação, me considere a míseros dois graus do Chico Buarque – modéstia à parte.
Não é brincadeira: a teoria foi feita a partir de um estudo científico mostrando que são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas no mundo estejam ligadas entre si. Por exemplo: meu chefe conhece a Marina Silva, que conhece o Lula, que conhece o Obama. São, portanto, quatro graus me separando do presidente dos Estados Unidos, o que sem dúvida já é um bom motivo para que ele monitore meus e-mails e minhas ligações. Outro exemplo: uma amiga minha conhece um vigário que conhece o Papa. Isso já me deixa a três graus de Sua Santidade, o que é próximo, mas não a ponto de dispensar pronomes de tratamento.
Agora imagine só o que é estar a dois graus de um artista como Chico Buarque. É tão perto que sinto-me tentado a dar uns toques para ele sobre aquela polêmica das biografias. Afinal, eu tenho uma certa influência: sou amigo do Daniel, que jogou bola com ele em Paris. A propósito, eu também penso em sugerir a ele (olhando para aqueles olhos azuis que a terra um dia há de comer) que pare com essa história de deixar o time dele invicto de qualquer jeito, porque está pegando mal. E sabe lá o que mais iremos conversar, nós que estamos cientificamente tão próximos um do outro.
Ao leitor eu digo que, embora seja bastante compreensível, não há motivos para sentir inveja: se você me conhece, pode-se consolar sabendo que está a apenas três graus do Chico Buarque. Não são dois, mas é melhor do que nada.