Escolhas
Contava ainda vinte e poucos quando pedi demissão de um emprego concursado num banco estatal, onde ganhava mais do que precisava, tinha estabilidade e um futuro supostamente promissor. Fui tachado de doido, e até hoje me perguntam se me arrependo da opção.
Penso que tomei a decisão certa, mas admito que durante alguns anos pareceu uma escolha estapafúrdia.O fato é que é impossível saber. Precisamos carregar a incerteza dessas decisões. Não temos duas realidades correndo em paralelo para comparar depois de alguns anos e então voltar no tempo e optar por aquela que produziu melhores resultados.
Jamais saberemos o que teria acontecido se tivéssemos seguido pelo caminho A ao invés de B. Ou vice versa.
Nossa vida é o resultado de uma equação imponderável, em que se misturam nossas escolhas, o contexto e uma dose de acaso. O que teria acontecido se naquele dia 22 de abril você tivesse virado à esquerda e não à direita? Teria sido atropelado ou trombado com o amor de sua vida?
Relaxe, você jamais saberá.
Toda decisão carrega em si o peso incalculável da renúncia. Decidir por A quase invariavelmente significa renunciar a B, e precisamos suportar esse fardo existencial sobre nossos lombos arquejados.
E se eu tivesse feito Psicologia? E se não tivesse casado com quem casei? E se tivesse mudado de cidade? E se tivesse permanecido naquele emprego? E se tivesse aceitado? E se tivesse dito não? E se eu fosse músico ao invés de engenheiro? Seria menos rico? Mais feliz? Viveria melhor? Mais uma hora de sono ou mais uma hora extra? Mais uma promoção ou menos uma úlcera? Encontraria o que nem sei que procuro ou me perderia pelo caminho? Trancar-se na segurança de sua masmorra ou dançar em êxtase à beira do abismo?
Há momentos em que parece que a vida não basta. Nesses horas, dá vontade de rasgar das paredes opressoras da realidade uma dimensão adicional e viver um universo paralelo, no qual possamos aplacar a angústia de tantas renúncias e dúvidas, tal qual crianças que vivem a fantasia do impossível porque nenhum adulto deu-se ainda ao trabalho de explicar a ditadura do possível.
Seria a capacidade de seguir em frente, a despeito de tudo, um sábio sinal de amadurecimento ou de covarde resignação?
Temos que passar pela vida carregando o fardo nem sempre ponderável de nossas escolhas, com todas as recompensa e prejuízos que isso trás. Condenados a andar por aí ostentando cicatrizes como gloriosos troféus de guerra, fantasmas que arrastam madrugada adentro as correntes de suas escolhas, felizes, infelizes ou incertas.
Viver é uma aventura incrivelmente incerta, e por isso mesmo, tremendamente bela.
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