Uma Luz além da Tela

Sábado tranquilo. Nem quente nem frio.
Sol e claridade.
Resolvo almoçar num restaurante próximo à casa. Caminho sem pressa,
Ritual de self-service. Escolho a mesa aleatoriamente (num local em que estão arrumadas em fileiras de duas) e sento.
Saboreando a primeira garfada, percebo à minha frente, duas senhoras sentadas: uma de frente para mim (em torno de 55 anos); outra, de costas, na cadeira da mesa ao lado (talvez uns 75 anos pelas cãs mal cuidadas). Entendi que estavam juntas, apesar da pouca troca de olhares.
Continuei a almoçar sem me desvencilhar da cena. A mais nova digitava freneticamente um smartphone enquanto comia. O silência fazia-se absoluto entre as duas.
De repente, a mais idosa fez um movimento. Deduzi que buscava sua carteira.
Surpresa, ouvi:
- Não mamãe, deixa que eu pago (ainda digitando)!
Não deixei transparecer meu incômodo.
Verdade: evito julgamentos, afinal, não sei que tipo de relacionamento permeou-se na infância.
Lembrei-me da minha mãe e de sua dependência afetiva. Do quanto me exigiu sem o saber. Do quando me doei sem perceber. Do sono meu tranquilo após sua partida na certeza da missão cumprida.
Já que não testemunhei qualquer manifestação de afetividade por parte da filha, pedi a Deus que alguma Luz, além da tela do smartphone, iluminasse o seu caminho.
 
Rogoldoni
09 06 2014

 
Rosângela de Souza Goldoni
Enviado por Rosângela de Souza Goldoni em 09/06/2014
Reeditado em 09/06/2014
Código do texto: T4837843
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