MINHA AVENTURA COM BOGART
Eu gostaria de ter uma aventura na África, mas hoje minha aventura não passou do calçadão, a poucos metros de minha casa. É um passeio que faço aos domingos pela manhã e que me revigora a alma. Vejo gente. Gente que trabalha com artesanato e que se levanta bem cedo aos domingos, para ganhar o pão. Renovo-me na feira de artesanato.
Por falar em pão, naquela feirinha compro o pão caseiro, que ponho na mesa. Este, porém, não é o objetivo primordial do meu passeio nas manhãs domingueiras. Dali, igualmente, trago pão para minha alma, que alimento com o sabor humano e descontraído ao vento de fim de outono. de lá trago provisão para o corpo e para o espírito. Não vejo os animais da África, todavia, as orquídeas me atraem, os velhinhos, ao sol, enternecem meu sentimento e as risadas descontraídas deixam-me feliz.
Compro algumas coisinhas e me dirijo para a revistaria. O Sr. Adilson revisteiro havia me telefonado, avisando que chegaram minhas encomendas e passo por lá, para trazer pequena fortuna em revistas, CD e DVD. Minha coleção da história profissional da Elis Regina está se completando, graças ao Sr. Adilson, pois eu havia perdido alguns números.
Hoje trouxe também o volume 4 de Os Grandes Astros do Cinema, Humphrey Bogart estampado na capa. Ah, agora sim, com ele farei Uma Aventura na África. Martin Scorsese afirma que Bogart ainda é “cool” e que tem um senso de ironia, a sabedoria da ironia. Vejo que ele era um solitário precavido, que não pertencia a ninguém, tinha honra pessoal e que, portanto, sobreviveria. Era uma ilha de Integridade, segundo o crítico Tynan.
Ah, como estamos em falta desse material, a integridade. Certamente, há ainda algumas ilhas íntegras por aí, embora em pouca quantidade. Encontro-as, às vezes, e trago comigo uma alegria inexplicável, para relatar em casa, com o espírito purificado.
Tomo outro café, agora acompanhado das crocantes bolachinhas de nata, feitas por Dona Senhorinha, (lá do calçadão), e vou me sentar esparramada no sofá, para minha aventura com Bogart e Katharine Hepburn na África, enfrentando o ambiente selvagem em que “as diferenças transformam-se em atração e o drama da sobrevivência vira uma inesquecível história de amor”.
Antes, vou preparar a pipoca.
Dalva Molina Mansano
08.06.2014
12:02