Nossa alegria

Quando nosso filho nasceu, minha mulher e eu renascemos. Uma nova vida começou, um novo filme, sem classificação: suspense, aventura, drama, comédia, amor, tudo junto. Sobretudo amor.

Demos-lhe o nome de Francisco. O nosso Chico. Os avós detestaram o apelido, mas não teve jeito, era Chico pra cá, Chico pra lá, e acabou pegando. Ele era muito esperto. Andou com nove meses. Aos cinco anos já sabia ler. Queria ser médico ou astronauta. Amava livros e histórias em quadrinhos. Aos oito anos escreveu um livrinho baseado na série “Jornada nas Estrelas”, que ele adorava. Fez tudo à mão: seis exemplares ilustrados, que ele deu para mim, para a mãe e para os avós. Estou aqui folheando o meu... “E da Lua eles viram a Terra azul cercada de escuridão...”. Aos oito anos...

Hoje Chico tem dezoito. Não anda, não fala, lê com dificuldade, mas se comunica, entende o que a gente diz, e se locomove, muitas vezes sem precisar da ajuda de ninguém. Foi uma luta... O acidente, o prognóstico, o desespero... A gente não acreditava, não queria acreditar. Mas por fim aceitamos, adaptamos tudo e ele continuou sendo o nosso Chico, a alegria da casa. Cada melhora que ele tem na fala, na capacidade de leitura e nos movimentos a gente comemora como uma grande conquista, uma benção. Ele melhora pouco, mas melhora.

Depois do acidente, quando aceitamos nossa nova missão e voltamos para casa com o Chico, eu e minha mulher renascemos de novo. Uma nova vida começou para nós, um novo filme, diferente do anterior, mas também sem classificação: suspense, aventura, drama, comédia, amor, tudo junto. Sobretudo amor... Um amor grande, que todo dia se renova na alegria de estarmos com o nosso filho, de vê-lo sorrir, levá-lo para passear, acompanhar seus progressos no tratamento... O médico diz que daqui a dois ou três anos ele poderá voltar a estudar, escolher uma profissão, ser independente. Nunca será o Chico que ele seria se não tivesse tido o acidente. Nunca será médico ou astronauta. Mas sempre será o nosso Chico, nosso orgulho, nossa alegria de viver...

...o presente.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 07/06/2014
Código do texto: T4836116
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