A morte de Fernandão
“Eis que estes são ímpios, e prosperam no mundo; aumentam em riquezas. Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração; e lavei as minhas mãos na inocência.” Sal 73; 12 e 13
Esse Salmo é o primeiro que lembramos quando o tema é a prosperidade longeva dos ímpios, ou, longevidade próspera, a ordem não altera. A sensação que seguido nos assola é que os maus caracteres, os pilantras têm vida longa e facilidades, enquanto os bons, dias breves na Terra. Claro que há exceções, maus que morrem cedo, e justos que envelhecem. Mas, quando um de boa reputação, testemunho de vida, frutos, parte cedo, certa incompreensão grassa, como se, quem preside a vida tivesse cometido um erro.
A Bíblia em momento algum ensina o fatalismo, como parte da filosofia grega, onde as sortes estão seladas de antemão e não nos resta escolhas. Antes, por sermos arbitrários somos exortados à prudência e sabedoria em nossas escolhas, dado que, as consequências são necessárias. “…porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” Gál 6; 7 Embora o contexto atine às coisas espirituais, seu princípio é válido em todos os âmbitos de nosso viver.
Certo é que a morte ronda a todos, independente do modo de vida; e muitos de excelente reputação encontram-na ainda cedo. Mesmo que isso seja doloroso, os bons “falam” com mais eloquência na ausência; e os maus, com a presença.
Aliás, o escritor da Epístola aos Hebreus, apresenta a “fala” de Abel e de Cristo depois de mortos. “Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala.” Heb 11; 4 ( chegastes ) “…a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.”
Os dois casos ( morte prematura dos justos, e vida longa dos maus ) insinuam um lapso de justiça, valorizando sua essência de modo bem didático.
Alguns exemplos de mortes prematuras me ocorrem: Castro Alves, Ayrton Sena, Paul Walker… e recentemente, Jair Rodrigues, Maurício Torres; e nesse momento, Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão.
Todos que o conheciam tecem altos elogios ao seu caráter; jogou a parte mais vitoriosa de sua carreira no Internacional de Porto Alegre, onde foi campeão da Libertadores e mundial. Mesmo torcendo para o Grêmio, o maior rival, aprendi a respeitar adversários que têm a postura que ele tinha, de correção profissional, humildade e respeito aos adversários.
Estava contratado pelo Sportv onde comentaria a próxima Copa do Mundo. Porém, um acidente de helicóptero em seu estado natal, Goiás, ceifou sua vida aos 36 anos, levando ainda a vida de quatro pessoas mais, de menor notoriedade.
Certo é que, se a vida não tivesse nada além daqui, seria mesmo uma grande injustiça morrerem cedo os bons e viverem amplamente os maus. Entretanto, a Bíblia assevera que não é assim. Primeiro aconselha a olharmos um pouco além da morte; “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” Depois, acena com recompensa aos que labutam “no Senhor”. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.” I Cor 15; 19 e 58
Se algum consolo pede vir sobre os que sofrem em face a perdas prematura de seus entes, é que, há algo mais no porvir; ademais, a ideia de injustiça passa longe do caráter Santo de Deus. Como já afirmava o Patriarca Abrãao; “Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Gên 18; 25
Claro que não se pode lenir a tristeza com palavras; ainda que as palavras certas podem, ao menos, fazê-la compreensível.
A morte deveria ensejar uma reflexão sobre a nossa situação em face a ela, caso nos surpreenda, como ensina Salomão. “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” Ecl 7; 2 e 3
Mesmo que a dor seja necessária, certo crescimento espiritual, psicológico ela propicia aos que a sabem aceitar e compreender. Isso se dá também entre anônimos, não apenas com famosos. Minha solidariedade a todos os que sentem a morte do Fernandão; que Deus os fortaleça.