Supercidadãos e o direito de chantagem
“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” Mat 7; 12
A reciprocidade apregoada na Lei de Deus figura textualmente em várias constituições. Na introdução da nossa temos esse belo princípio expresso; “Todos são iguais perante a lei…” Entretanto, os próprios que promulgaram a carta, os congressistas, são privilegiados em muitos aspectos. Gozam de uma jornada de “trabalho” pífia, transportes, moradia, assistência médica, odontológica, gráfica, assessores, verbas de representação, etc, benesses que triplicam seus polpudos salários. Quando apanhados em falcatruas dispõem de foro especial e os melhores advogados para ludibriar a justiça. Assim, o mau exemplo começa de cima pra baixo, ao descumprirem as leis que promulgam.
Guardadas as proporções, a coisa se repete nos legislativos estaduais e municipais. Invés da justa universalidade das leis, criam nichos específicos pra questões raciais, sexuais, que, apesar do discurso da defesa de minorias são injustos com a maioria. Não existe discriminação “do bem”, toda a lei parcial é injusta. A menos que existam dois ou mais tipos de cidadãos, aí, fará sentido. Direitos de negros, gays, aidéticos, etc, já estão garantidos nas leis universais; privilégios, não.
Além dos políticos, porém, temos outra casta de privilegiados que são os servidores públicos da administração direta, ou, os de concessão de serviços públicos, como os de transporte urbano, sobretudo. Se esses, diverso dos legisladores não podem decidir o valor dos próprios salários podem usar as prerrogativas exageradas do direito de greve para chantagearem governantes desrespeitando os direitos da população quando bem lhes aprouver.
Foi assim com a greve de motoristas e cobradores em Porto Alegre; está sendo com servidores municipais; igualmente, com metroviários em São Paulo. Nota-se claramente a motivação política para tumultuar em dias que se aproxima a Copa, para fazer reivindicações muito acima do razoável, pois, dado o momento especial a coisa tem peso de chantagem.
Danem-se os corruptos que enriqueceram bem como outros que querem fazer uso político do evento para se promoverem! Mas, quem está se danando no meio disso é o cidadão, pagador de impostos que é refém de sindicalistas safados que por não terem a representação política que almejam, manobram massas de trabalhadores para lograr seus intentos.
Nós, autônomos, ou, empregados da iniciativa privada podemos rejeitar certos contratos, ou, mesmo sairmos de um emprego onde estamos descontentes. Por que eventuais descontentes do serviço público não fazem o mesmo? Porque se sentem acima do bem e do mal; são concursados, têm estabilidade.
Assim, para pagar seus salários os cidadãos são patrões; para usufruir o devido contraponto em serviços, nem sempre, e nesses casos, viram reféns. Acho que está na hora de refletirmos se é mesmo essa sociedade que queremos.
Quanto a mim, penso que o ingresso ao serviço público deve continuar sendo via concurso, pois, evita os apadrinhamentos que alocam partidários invés de competentes; mas, a figura da estabilidade, e o direito de chantagem deveriam ser revistos.
Não que devam ser mal assalariados, mas, o mau uso da liberdade não raro, derrapa em restrições, e eles deveriam conhecê-las há muito. Que se estabeleçam padrões equânimes, indexando à inflação, ao reajuste do salário mínimo ou coisa assim, para que as greves não sejam mais necessárias; sequer, permitidas.
Quando uma categoria vital, como a dos transportes, para, um cidade toda se imobiliza e os prejuízos são imensos. Existe arraigada nessa mentalidade um conceito como se as riquezas não fossem produtos, mas, filões de extrativismo; aí, bastaria reparti-las. Poderíamos ter “passe livre” como se o transporte não tivesse custo. Mesmo os funcionários do sistema desfrutarem altos privilégios que o Estado paga. Ora, quem é o Estado? Uma organização social que representa aos cidadãos, nós. E nós estamos sendo roubados em nossos direitos cada vez que uma classe dessas resolve parar tudo ao berrante de um sindicalista qualquer, que visa se promover às nossas custas.
Se formos irresponsáveis em nosso trabalho conheceremos consequências; esses, o são sistematicamente e seguem sempre impunes. Vimos outro dia o quê a sensação de impunidade propicia, durante a greve dos policiais em Recife. Dezenas de lojas foram saqueadas, sendo roubados milhares de eletrodomésticos; uma meia dúzia com escrúpulos devolveu depois.
Esses “servidores” saqueiam sistematicamente seus patrões apoiados na impunidade vigente num sistema de privilégios como se o cidadão que os paga fosse de segunda categoria, eles, a casta dos nobres.
O pior de tudo é que a maioria dos espoliados em seus direitos, invés de se organizar e lutar contra, está fazendo dezenas de concursos, para, em algum momento entrar para o clube dos supercidadãos. Que se repare eventuais injustiças, mas, que os pratos do direito e do dever se equilibrem na balança.