Maria do Brejo
"Aquele leproso, aquele alcoolizado, aquele mendigo é meu irmão. Se agora se encontra na rua, sem amor e sem cuidados, é possível que a causa seja o fato de não o compreendermos e amarmos."
(Madre Teresa de Calcutá)
MARIA DO BREJO
Em uma de minhas viagens, encontrava-me num pequeno vilarejo na década de setenta do século passado. A mortalidade infantil era grande. Lembro-me, agora, de minha infãncia na cidade de Parnaíba, Piauí, quando o enterro dos "anjinhos" era algo muito comum. Tenho forte a lembrança dos caixãozinhos brancos para bebês, sempre à venda...
Soube da morte de um bebê. Era uma notícia já tão comum que nem me comoveu. Cheguei até a pensar que era melhor morrer do que estar sofrendo. O bebê era de família bem pobre. Não tinha lá um futuro bom não.
As pessoas foram ao enterro do pequeno defunto e eu fui também... Não havia o que fazer naquela tarde.
Durante o enterro, as pessoas rezavam e cantavam uma canção que tinha um verso "e ele é tão pequenininho...". Esse verso era repetido várias vezes... Ao escutá-lo, me emocionei. Pensei na tristeza de um bebê tão pequeno não poder viver, fazer história, amar e ser amado. A tristeza tomou conta de mim e já me parecia mais com os familiares do bebê.
Quando o cortejo entrou no cemitério, apareceu Maria do Brejo. Era uma mendiga negra, deficiente mental, alcoólatra. Tinha um defeito numa das pernas e caminhava com dificuldade. Havia uns boatos que ela havia curado algumas pessoas de febre alta e gripe forte. Ela sumia sempre e depois aperecia pedindo esmola e alcoolizada. Maria do Brejo chegou perto do caixãozinho e tocou a criança defunto, que soltou um grande choro preso, como de um bebê que acaba de nascer...