Rosas, paraíso, literatura
É nessa casa velha aí mesmo – e isso é antes um elogio. Chama-se Casa das Rosas e está localizada no Paraíso, donde se vê que tudo coopera para a sensação de bem estar e paz de espírito. Chegamos cedo e aproveitamos para caminhar pelo começo da Paulista. A Paulista! Daqui se começam revoluções. Mas não é dia de protesto, pelo menos não durante a manhã. Também a nossa disposição não é para tanto, e nos contentamos em voltar para a casa onde teríamos um encontro.
Um curioso encontro com gente que eu nunca havia visto na vida, embora tenha compartilhado com eles a maior parte das minhas leituras e dos meus palpites sobre literatura nos últimos anos. Coisas que a internet proporciona. Mas chega um dia que a tela do computador não basta e queremos saber quem está por trás da pessoa com quem conversamos frequentemente. Marcamos então encontros como este em São Paulo.
Já alguns nos esperam e há uma certa hesitação até nos certificarmos de que aquelas pessoas são as mesmas que vemos em fotografias nas redes sociais. Em instantes, no entanto, estamos todos tomando um café, conversando animadamente as coisas que antes apenas escrevíamos. Falamos sobretudo de livros, revemos os nossos autores prediletos, trocamos impressões sobre eles. Fico sabendo que a chance de abandonar a leitura de Ulisses é menor se você começar pelo capítulo 4. Um dia quem sabe eu tente ler e essa informação será útil.
Há neste grupo um leitor que chegou ao ponto de comprar um pequeno livro que escrevi. Pede-me para autografá-lo e, curiosamente, é esta a primeira vez que vejo o meu próprio livro impresso. A conversa continua, mas já então eu estou disperso, envaidecido por ter tido algumas palavras escritas em umas folhas de papel.
Quando volto à realidade, o assunto já é outro: a violência nas ruas de São Paulo. Tenho um sobressalto. Só então me ocorre que existe violência em São Paulo. Que tristeza! Eu preferia que fosse tudo apenas rosas, paraíso, literatura.