A revolução dos valores
"Nunca se deve esquecer, quando se é
atingido pela infelicidade, que ela talvez
nos salve de uma desgraça maior."
Winston Churchill
Interessante, caros amigos e amigas. Hoje, surgiu na minha cabeça o final retumbante desta crônica. É um final que alguns, com certeza, contestarão, mas outros, como eu próprio, darão uma boa risada.
Na verdade, seria ótimo que eu pudesse fazer uma espécie de “pôpurri” de alguns acontecimentos da minha vida, desde a tenra infância até a mocidade irresponsável dos meus 25 anos. A vida boa mesmo é rápida, vai só até aos 25 anos. Sei, sei, me contestarão, dirão que ela é boa até à morte. Pode parecer boa, mas não é. Mas deixemos essa discussão de lado. Não falemos mais nisso...
A revolução de valores que estou assistindo, quase que atônito, me mostrou que o que achávamos impossível de acontecer, hoje é perfeitamente aceitável e mesmo imposto pela maioria. A bem dizer, nada ficou de pé. As novelas e a realidade não me deixam mentir.
Já contei alhures (reconheço que esse alhures é antigo) como me tornei Flamengo. Depois de dizer para o moleque de rua que era Fluminense ( papai era tricolor), fui logo ridicularizado, pois segundo o moleque da rua Santo Amaro, no Rio, era impensável alguém naquela época, início da década de 50, ser um dândi. E para cúmulo da vergonha, a torcida tricolor costumava jogar pó de arroz (talco) na torcida adversária. Não preciso dizer como estão as torcidas hoje. Os dândis, bem deixa prá lá...
Na infância e, principalmente, na mocidade achamos que a vida foi feita só pra nós e que não vamos morrer nunca.
Recordo-me dos meus cinco anos, morando em uma ilha deserta na Bahia. O meu café da manhã era simplesmente meio copo de leite condensado puro. Era a fase mágica. Mágica porque não sabemos de nada, tudo é irresponsavelmente confuso na nossa cabeça. Recitando uma palavra secreta, achava que abria qualquer porta do mundo. Foi assim que comecei a ler e espantei meu pai. Na verdade, não lia nada, decorava o formato das palavras e “lia”. No ponto do bonde, dizia para minha mãe: - “Lá vem o bonde Tororó”. E era o Tororó, mesmo!
E foi desse jeito, achando tudo possível, que passei um ano juntando dinheiro, para poder lanchar chá com torradas Petrópolis com a vedete do Brasil, Virgínia Lane. Estava com 16 anos. Colegas mais velhos inventaram essa estória pra mim. Cheguei até a jogar no Joquei Clube e teria que ter a fabulosa quantia de cinco mil reais, no dinheiro de hoje. Como ganhava por dia apenas um real (cruzeiro, na época), lógico, jamais pude lanchar com a vedete.
Claro, neste período que estou enaltecendo, houve sustos tremendos, baixas emocionais, ao mesmo tempo que momentos altos, de grandes e belas emoções.
O que eu quero dizer é que a mocidade nos dá uma noção de ilusão fantástica e nos movemos para todos os lados como imortais e tudo fazendo com uma esperança que jamais morre.
Mas há um momento em que precisamos trabalhar, ganhar a vida. E outro momento em que casamos. E os relacionamentos, antes puros e ingênuos, já se tornam perigosos, maliciosos. Eu, que sempre procurei ser generoso com as novas amizades, com uma tendência a simpatizar de cara com as pessoas, agora sinto um certo temor. E quase fico como um personagem de Albert Camus, no romance “A queda”. Aquele personagem, ingênuo, boa praça, ao ver uma cara nova sorridente para ele, pensava: -“ Perigo à vista!”
Bem, amigos e amigas, termino essa rápida e saudosa digressão. Peço o consentimento dos meus queridos leitores para que recebam esta crônica como se fosse um papo de bar, em fim de semana.
Aí, quando me casei, vivi infeliz para sempre.