Uma casa, um tom, um funeral

Uma casa, um tom, um funeral

Há muito tempo venho por uma rua, e esta rua me mostra um portão, onde

uma casa fora demolida em nome de empreendimentos futuros. Lamentável...

Acho tão triste quando o cenário de uma histórias, ou várias, vira pó.

Do pó se vem, para o pó se volta. Quem disse isto?

Não sei, não creio, não incorporo esta questão em mim. Continuo achando triste e melancólico tudo se acabar em pó. Prefiro que acabe em música.

Este portão protege um terreno vazio, que outrora fora uma casa, e hoje só restam dois pés de mamão. Um se entristeceu tanto, que nada mais brotou. A outra árvore continua viva e resistente.

Aqueles pés de mamão me dizem muito, e este muito quero colocar aqui, pois ainda não sei bem ler internamente as palavras que rondam.

A casa de frente tem tom, música, arranjos, flores, crianças, som e cores, amores...

Nunca entrei nesta casa, que é uma escola, mas me encanta seu pinheiro ornamentando imponente sua esquina. Parece uma tuia do palácio de Versalles.

Coisas de rainha.

Aquilo me chama pra um aconchego dentro do que não conheço, assim como as penumbras e as alamedas de uma casa.

Hoje me programei pra limpeza, mas fui dar uma volta com o cão e vi o portão da escola aberto. Haaaaam...suspirei de súbito.

Senti-me inflar, tive vontade imensa de entrar pela alameda linda, frondosa, bem cuidada da casa.

Existe ali hoje, o tom e o funeral.

Havia um funeral...da matriarca.

E nem mesmo um tom fúnebre existe ali, de tão vivaz e sonora é a casa.

Ares românticos, nome eslavo, um violino, um abajour, um tapete, um acorde, um tudo ali.

Bem ali, que eu me senti em outra esquina, outro lugar, um encantamento me invadiu.

Aquela casa me provoca isso...

O pensamento final foi, tomara o progresso não chegue aqui. Não queira levar estes tons, e não faça com que tudo acabe em funeral, sem uma ária sequer de Bach.

Mônica Ribeiro

05/06/14

Mônica Ribeiro
Enviado por Mônica Ribeiro em 05/06/2014
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