Quase me tornei Papa
Quando Bento XVI anunciou sua renúncia ao papado, naquela época cogitei lançar minha candidatura ao cargo submetendo meu nome aos 117 cardeais que formariam o colegiado para proceder a escolha do novo pontífice. Sim, pois qualquer pessoa, segundo os cânones da Igreja romana, pode ser eleita papa; dizem especialistas em direito canônico; desde que batizada na fé católica. Mesmo que batizada à revelia, como foi o meu caso: com apenas 25 dias de idade, quando ocorreu a cerimônia do meu batismo, eu não tinha qualquer possibilidade de rejeitá-lo pois nem falar sabia para expressar eventual contrariedade, além de não fazer a menor ideia do que estava acontecendo. Enfim, quando cogitei concorrer ao papado imaginei: qualquer um, desde que batizado, pode ser papa, porque não eu? Na verdade, afora o fato de eu ser batizado, à revelia, na fé católica, nem religioso eu era, nem nunca fui. Mas isso não teria importância. Sendo um direito legítimo lançar minha candidatura, porque não exercê-lo? Se eleito, depois eu veria o quê e como fazer. É como ser ministro no Brasil, por exemplo. Pode-se ser ministro da pesca sem nunca ter pescado um lambari. Ou ser ministro da agricultura sem saber sequer como se cultiva um pé de alface. Ou ser membro de casa legislativa federal, estadual ou municipal sem saber ler, falar ou escrever direito. Então...é a mesma coisa – pensei. Eu poderia me tornar Papa sem ser do ramo, sem nunca ter rezado uma missa. Pra começar, caso fosse eleito, ao menos sabia de cor o “Padre Nosso” e a “Ave Maria”. Os “salve rainhas” na sequência iria dando um jeito, com uma boa assessoria tal e coisa, coisa e tal. Rumo ao Vaticano – sonhei - quem sabe o primeiro papa brasileiro! Por absoluta falta de apoio à minha empreitada, acabei desistindo da ideia e deu no que deu: além de ver ruir meu sonho de ser o primeiro papa brasileiro, ainda tive que engolir o surgimento do primeiro papa argentino. E de bico calado.
Quem sabe no próximo conclave...
Nelson S Oliveira