LEMBRANÇA IV
Ainda lembro-me perfeitamente de quando foram inauguradas as linhas dos ônibus elétricos no Recife.
Inicialmente, foram contemplados os bairros mais populosos e de menor percurso.
Para o sucesso do transporte de massa, rápido e confortável, naqueles ônibus enormes importados dos Estados Unidos, foi criada uma empresa de economia mista, a Companhia de Transportes Urbanos – CTU – onde os motoristas e cobradores eram selecionados, também, pela escolaridade e pela maneira como se relacionavam com os usuários.
Era voz corrente de que dentro dos ônibus sempre havia um “olheiro”, para reportar à empresa, qualquer deslize na urbanidade dos seus empregados.
Aqueles antigos ônibus de pequenas empresas, muitas delas familiares, que serviam aos bairros numa febril concorrência para ver quem chegava primeiro e quem carregava mais passageiros, foram aos poucos sendo substituídos.
Os cobradores já não precisavam gritar – olha a onça! – para avisar ao motorista que outro ônibus estava no seu encalço.
Meus avós maternos moravam na Estrada do Encanamento, no trecho em que essa rua faz a divisa dos bairros de Casa Amarela (densamente habitado e o primeiro a ser servido pela novidade) e da Casa Forte, originado do engenho de mesmo nome, de propriedade da viúva senhora dona Ana Paes, heroína das batalhas para a expulsão dos holandeses nos idos de 1654, com seus casarões e muitos sítios cheios de fruteiras e muitos pássaros, como os sabiás.
Quase todo final de semana eu ia para a casa dos meus avós e, logicamente, usava os ônibus elétricos.
Mas o tempo passou, a frota foi aos poucos sendo deteriorada pelo uso e pela ação dos vândalos, a falta de renovação levou-a ao sucateamento e a adoção de ônibus comuns, a CTU faliu, os fios da rede elétrica, danificados pelo uso, pela salinidade do ar recifense e pela falta de manutenção foram roubados, principalmente nos finais das linhas mais longas, como Beberibe, Macaxeira e Várzea, para serem vendidos em ferros velhos que, desde sempre, são conhecidos como compradores de objetos roubados.