Copa de Futebol: entre sonhos e devaneios
Transcorria o ano de 1982 de nosso Senhor...
Que Senhor, senhor cronista? Ficou louco de vez e está usando esta expressão medieval?!
Não, senhor interlocutor! Foi apenas para provocar o leitor e introduzir este ano de 1982 no presente tirando-o do passado e tomando-o no contexto da pós-modernidade.
Aquele senhor a quem o cronista se refere pode ser qualquer um: o governo militar e a ditadura na época; ou mesmo a ideia do sagrado que se tinha; ou mesmo a juventude que se fazia. Gosto de pensar no senhor sujeito histórico que é cada um de nós. Sim, o sujeito histórico é cada um de nós. Fomos nós que fizemos passar os abusos ditatoriais (e há loucos suficientes para pensar na volta deste regime como se fosse uma solução). Fomos nós cidadãos comuns que questionamos, ousamos, o sagrado para mostrar que atrás dele se esconde os interesses humanos. Fomos nós, que antes jovens, tivemos a coragem de amadurecermos e enfrentarmos realidades, divergências, dificuldades e vencermos. Somos vencedores!
Comeu mosca, com licença da expressão, quem pensa que são os heróis os responsáveis pelo contexto histórico: não foi Figueiredo o ditador que permitiu a abertura para o processo democrático (quantos jovens foram torturados e mortos para que a ditadura militar acabasse?!); não foi o Papa ou o Pastor que adaptou as igrejas às formas mais amenas e menos ortodoxas no modo de ser cristão (quantos fiéis ousaram questionar o jeito de exercer a fé?!); não é o cronista que tem o ‘dom’ da escrita, mas o conjunto de professores e autores que lhe ensinou habilidades e competências para ousar escrever.
Cronista, o senhor está fugindo da introdução. Qual é a temática que 1982 lhe desperta?
Tudo o que aconteceu nestes 32 anos e mais o fato de que em 1982 ocorreu a Copa Mundial de Futebol na Espanha. Em referência nas ruas havia ‘autdoor’ que trazia a estampa de um toureiro com sua capa vermelha. E nós, sujeitos históricos, neste transcurso toureamos tantas coisas e chegamos novamente a um ano de campeonato mundial de futebol, 2014, em que o Brasil será a sede dos jogos.
Se em 1982 a ditadura militar usava a possibilidade de sermos campeões mundiais de futebol para o brasileiro ufanar o peito e cegar os olhos para não ver os abusos do (des)governo – como a inflação galopante e a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) – em 2014 não é muito diferente.
Usam a Copa Mundial de futebol sediada no Brasil para questionar posições políticas públicas herdadas de governos que nada fizeram. Os governos de tendências políticas diferentes aos da atualidade deixavam o povo à míngua (um deles aposentou-se aos 38 anos de idade e enquanto Presidente chegou a afirmar, condenando-se – mas ele não é Povo, é Elite- que quem aposenta antes dos 50 anos de idade é vagabundo); deixavam também a população sem atendimento hospitalar digno, sem investimento na Educação... E ainda privatizaram nossas Empresas Estatais e desmantelaram as Universidades Públicas e não investiram em Pesquisa Científica deixando por conta das Redes Universitárias de iniciativas privadas. E estes mesmos que usam as falácias como argumentos querem que a conta seja paga pelo atual governo que mais se aproximou dos brasileiros de menor renda.
E o povo se deixa levar sem analisar os discursos que digerem sem mastigar e reproduzem as falas sem pensar.
Os contrários à Copa de Futebol no Brasil nada fizeram anteriormente quando havia a possibilidade de o país não ser a sede do mundial.
Especulamos, então: quantos não vibraram quando o país foi sorteado para hospedar os jogos?! Por quê?
Será que não foram as razões das possibilidades da política partidária serem outras?
Já que nada foi feito antes e o Circo está armado, que haja espetáculo!
Porque é necessário saber a hora de ser o sujeito histórico para fazer a coisa acontecer. Impedir ou querer impedir a Copa de acontecer não fará os investimentos já feitos serem revertido para a Saúde e Educação. Só trará prejuízos, porque gastos públicos já ocorreram desde quando se efetivou que ela ocorreria no Brasil.
Caprichos políticos entre sonhos e devaneios, manipulações.
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 04/06/2014.