FORMIGUEIRO

e souza

A infância é um tempo maravilhoso, aliás, todo o tempo é maravilhoso, desde que a gente não o torne em um inferninho particular. Além de querer um bichinho de pelúcia, queria ganhar também um telefone. Ganhei!!! Fiquei super feliz e abri a caixa do presente, e lá estava um aparelhinho, vermelho, fone amarelo, disco azul e no meio um ‘nariz’ de palhaço, era uma bola vermelha. A única coisa que esqueci de dizer para minha mãe é que eu queria um telefone de verdade. Mas o que vale é a intenção. O bicho de pelúcia não chegava mesmo, nem se eu acendesse velas de cabeça para baixo, o jeito foi brincar com aquele telefone de plástico, mas não durou muito tempo. Gostava mesmo era de brincar com meus carrinhos de plástico, simulava batidas, acidentes, mas ninguém se machucava, porém com o tempo aquilo foi ficando monótono, após os carrinhos estarem todos amassados eu soprava no buraquinho na emenda do plástico e pronto, estavam todos novos de novo, aí eu comecei a deixar a brincadeira mais excitante, eu botava fogo nos carrinhos batidos, coisa de filme americano, e era impossível salvá-los da destruição eminente, até que um dia não havia mais carrinho algum para eu queimar. Penso que era um pouco piromaniaco, mas isso passou e a sociedade agradece. Entrou em cena aquele telefone de plástico que eu falei aí em cima. Bem, não precisa dizer, mas ele ficou irreconhecível e pararam de me presenciar com brinquedos de plástico. Isso tudo pode até não ser normal, pensando bem, não era mesmo! Nós não tinhamos vídeo games, então o jeito era queimar os carrinhos baratinhos. Ganhei minha primeira magrela, naquele tempo, hoje é bike. A primeira Monark a gente nunca esquece, mas eu a esqueci do lado de fora de casa, e só Deus sabe onde ela foi parar. A segunda era uma Caloi dobrável psicodélica, mas não durou muito comigo, aliás, não me lembro bem qual foi seu fim. Antes de ter esses brinquedos legais, no caminho da escola para casa havia um posto de gasolina e lá eu ia até o depósito de latas de óleo vazias e levava algumas para casa e fazia delas meus carrinhos, furava o fundo e passava um arame e saia puxando a lata pela rua, eu chamava aquilo de carro. Brincava sempre no quintal dos fundos de nossa casa ou no campinho ao lado. Minha mãe detestava, e me pedia sempre para que eu sumisse com aquelas latas, pois faziam uma sujeira de restos de óleo pelo quintal todo. Lembrei! Meu pai fez um galinheiro e criávamos umas galinhas estranhas, elas eram gordas e baixinhas. Depois de um tempo desapareceram. Será que comemos aqueles bichinhos? A última vez que minha mãe pediu para eu desaparecer com as latas, descobri outra brincadeira legal, jogá-las por cima do muro dos fundos da casa, mas havia de ser com muito estilo para que a brincadeira não ficasse sem graça. O que acontece é que eu inventei a primeira guilhotina de pontas de dedos. Enfiei o dedo indicador da mão esquerda no buraco da lata e a arremessei para o outro lado do muro, a lata se foi, sem antes é claro, levar consigo uma parte do meu dedo, não perdi a ponta, mas a lâmina fez um estrago, bastou alguns pontos agora ele parece novo. Talvez se tivesse perdido o dedo, quem sabe eu seria presidente da república, o fato é que comigo não deu certo. Não brinquei mais daquilo. As festas juninas estavam começando, tudo muito bonito, os balões, é claro eu não tinha noção do quão é perigosa aquela beleza, fogueiras e bombinhas e eu como sempre, um grande inventor, resolvi inventar uma coisa chamada ”burrice” e abri as bombinhas e fiz um montinho de pólvora no chão do quintal dos fundos, minha mãe estava supervisionando os caras que vieram instalar o armário da cozinha e eu lá fora com uma caixa de fósforos. Péssima atitude a minha! E BUM! Na verdade o barulho não foi bem esse, só escrevi para ilustrar a minha estupidez, o fabricante daquela brincadeira dolorosa esqueceu de dizer que não podia colocar fogo naquele pozinho e muito menos ficar com a cara bem em cima. A fumaça cobriu meu rosto, queimei sobrancelhas, cabelos e a testa, nada que uma plastiquinha não resolvesse. Ficou perfeito! Médico ‘bão’ aquele! No terreno onde atirei meu invento a “guilhotina de dedos”, eu brincava de dirigir um carro, o volante era sempre uma tampa de panela, depois minha mãe me proibiu de furtá-las do armário. Um dia parei meu “carro” no terreno para ficar observando um belo cavalo se espojando na terra do campinho, achei aquilo o máximo, pois ele fazia exatamente o que eu sempre quis fazer e minha mãe nunca deixou, fui até bem perto dele para ajudá-lo na brincadeira, e por descuido joguei terra nos olhos do animal. E aí, quem é o animal agora? Ele não me disse nada porque não deu tempo, acho que ele não gostou e correu atrás de mim e pulei o muro do vizinho e graças a Deus o pastor alemão, este sim ia com a minha cara. Nessa época eu só não sentei num formigueiro ‘lava-pés’, isso eu deixei para minha irmã, a Rê. Se não fosse meus pais tomarem providências enérgicas eu certamente caminharia para um suicídio involuntário.

e-mail: edsontomazdesouza@gmail.com

E Souza
Enviado por E Souza em 03/06/2014
Reeditado em 14/01/2015
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