Seu Anfilófio já estava beirando os 93 anos, mas tinha uma disposição e uma saúde de fazer inveja a qualquer jovem. Pela manhã fazia sua caminhada, depois mergulhava no rio que passava no fundo do quintal e voltava para ler o jornal, cuidar dos passarinhos e implicara com os netos. Na hora das refeições não dispensava a sua caneca de vinho, hábito que herdara de seu pai que, como ele, teve uma longa vida. Quando lhe perguntavam o segredo de tanta saúde ele respondia: mulher, meu filho, mulher! É o remédio mais santo pra agente viver bem. As pessoas sorriam benevolentes, diante de seu entusiasmo. Os filhos de seu Anfilófio é que não achavam graça alguma, já cansados das façanhas do velho. Durante o dia passava a dormitar na cadeira de balanço, só acordando, religiosamente, para as refeições que não perdia nunca. O problema maior era depois das oito da noite, hora em que o velhinho parecia ganhar alma nova. Era a hora de começar a vigília. Seu Anfilófio costumava pular o muro , para fazer o seu programa noturno. depois que todos iam dormir. Certa noite, estando muito cansado, Aécio cochilou, durante sua hora de vigília. Ao acordar, não vendo o pai no quarto, saiu como louco a procurá-lo. Vasculhou a casa toda e não o encontrou. Preocupado acordou os irmãos. A família já estava alvoroçada quando uma de suas noras, ouvindo aquela confusão, levantou-se e, meio sonolenta ainda, pediu que eles se acalmassem. O velho tinha ido dançar. Dançar? perguntaram em uníssono – mas dançar aonde? - Ele vai sempre na casa das “Damas da Noite” onde, segundo me disse, é muito querido. Os rapazes partiram para o Centro, onde ficava o puteiro. Lá encontraram o pai, com uma mulata sentada no joelho direito e uma loura no esquerdo, a lhe fazerem cafuné. A garrafa de vinho já estava no fim e ele ria, feliz como pinto no lixo. Os filhos o levaram sob o protesto das meninas. No dia seguinte e nos subsequentes, ele não apareceu. Estava de castigo. As meninas esperaram por ele durante toda a semana sem saber que o pobre velho estava, agora, vigiado dia e noite, como se fosse um criminoso. Interpelaram a empregada da casa e souberam da maldade que estavam fazendo com Fifi, como carinhosamente o chamavam. Imediatamente rumaram em passeata, com faixas e cartazes pedindo a volta do cliente predileto, já que gastava com vinho e não consumia o principal produto da casa. No primeiro dia os filhos ficaram irredutíveis, mas a guerra continuou por toda a semana, com arruaça, palavrões e ameaças de denúncia à polícia de o manterem em cárcere privado. No final de uma semana eles capitularam e libertaram o pai que, agora, não só vai ao puteiro com a permissão dos filhos, como também leva os netos maiores, para serem iniciados na arte do amor. As prostitutas deixaram bandeiras brancas nas calçadas, em sinal de paz. A alegria voltou àquele antro de prazer e, a cada noite, o ancião passa a mão, única coisa que pode fazer, num trazeiro diferente, provocando, nas meninas, um frenessi. Elas só lamentam não tê-lo conhecido uns 30 ou 40 anos antes.