PULE ALGUMAS PÁGINAS (AINDA VOU ESCREVER ALGO BOM)

Alguns livros a gente lê em seqüência, página por página, tendo lido primeiro a contra-capa, as orelhas, apêndice, prefácio e dedicatória. Existem livros que atraem pela capa, pelo título, pela textura e pelo brilho. Já li um livro só porque gostei de tê-lo nas mãos, tive a impressão de que lia com os dedos, alguma coisa a ver com alfabeto braillle. O livro é a expressão do ser humano, é a extensão da conversa, um amigo que fala quando lemos e que ouve quando paramos para refletir.

Outros livros a gente não sente a necessidade da cronologia, começa a ler de onde ele foi aberto; às vezes pelo epílogo mesmo, então começamos a retroceder nas páginas, decrescendo até o início para saber se valeu a pena começar pelo fim, ou se aquela primeira página foi suficientemente alicerçada para receber os pavimentos até que a construção esteja concluída.

Algumas pessoas são como livros prontos para a leitura inicial, sem erros de gramática, mas com erros de concordância; com verbos bem flexionados, mas com ineficiência narrativa; com boa impressão, mas com incoerência textual; com boa introdução no parágrafo, mas com conclusão desarmônica; que no discurso inicial usa a primeira pessoa do plural, mas que durante o desenvolvimento da leitura passa a cuspir na primeira do singular.

Outras pessoas são como livros sem títulos, sem autores, sem páginas numeradas. Podem estar em uma estante da biblioteca ou na prateleira de um sebo, mas sempre estarão abertos para que possamos ler a partir de onde quisermos. Não se assemelham aos livros politicamente corretos, que passam pela revisão técnica e são atrelados à ditadura do mercado. Algo assim como a democracia e a liberdade, a primeira diz sim quando é permitido, a outra é livre, pensa a partir daquilo que observa e nunca será escravizada.

Ricardo Mezavila.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 03/06/2014
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