Isso é meu!
Falar em fim quase sempre é triste. No entanto, o fim de uma fase é o começo de outra. Por que, no entanto, ficamos com medo de recomeçar? Quem pode saber se esse novo começar será melhor ou pior do que o outro? Quando temos que tomar uma decisão como é a separação, mil perguntas nos vêm à cabeça. O mais trágico, se não fosse, muitas das vezes, cômico, é o momento da divisão dos bens. Nessa hora se tem oportunidade de conhecer um pouquinho melhor o caráter do ser ex-amado.
- Bom, já que é pra separar, vamos dividir as nossas coisas – diz Regininha.
- É pra já. Dessa vez eu me livro dessa mesa horrorosa que a tua tia Cora te deu – responde José.
]- Você não tem a menor sensibilidade para arte, Zé.
- Eu fico com o cachorro.
Não, queridinho, o Fedido é meu. Sou eu quem sempre cuidou dele desde que ele chegou, cheio de pulgas. Sou eu que lhe dou comida, que lhe dou remédio e banho. Eu sou a verdadeira mãe do Fedido. Se você quiser levar o papagaio, que é grosso como você, com todos aqueles palavrões que formam o seu repertório, eu não me oponho.
- Coitado do Tirano! Ele só aprendeu esses palavrões todos depois que a tua mãe veio passar as férias conosco e a tua velha não dispensa umas palavrinhas cabeludas.
- Não mete a minha mãe nessa história, Regininha. Ela já está no ceu.
-No inferno, você quis dizer, para onde, aliás, você vai também quando morrer.
- Não muda de assunto não. Vamos continuar a divisão.
- Quer dizer que você não abre mão do cachorro. Pois muito bem. Vou ensinar o Fedido a te morder e você vai se arrepender pro resto da vida.
- Eu fico com o sofá.
- Só se for com as almofadas porque a estrutura é minha. Fui eu que bolei.
- E o que é que eu vou fazer com as almofadas sem a estrutura, Regininha?
- Ah, isso eu não sei. É problema seu. Não mandei separar.
-Tá. Eu te dou o sofá completo e você me dá o colchão ortopédico.
- Mas é muito engraçadinho! Eu com a coluna doendo a noite toda pra você se deliciar com “a outra”? Era só o que me faltava!
- O vidro de Novalgina pode ir deixando aí. Quem comprou fui eu.
- Deixa de ser mãe de vaca, mulher! Deixa pra mim que vou ter a maior dor de cabeça com esse divórcio.
- Tá. Eu deixo, mas a geladeira é minha e o aparelho de ar condicionado também.
- Não me diga, gracinha. Quer dizer que eu morro de calor e de sede enquanto você toma aguinha gelada e dorme no fresquinho? Não me faltava mais nada.
- Então tá. Você fica com a geladeira e eu com o ar.
- Não. Eu com o ar e você com a geladeira.
- Assim não dá. Não vamos chegar a um acordo nunquinha! - Quanto aos meninos, Regininha, você pode ficar com eles. Leva os oito com você porque você tem mais paciência.
- Mas nem pensar em semelhante asneira, Zequinha, as crianças ficam com você. Não sei se o meu novo marido vai gostar deles e eu detestaria que alguém maltratasse os meus filhinhos.
- Mas que filhinhos que mané filhinhos! Uns marmanjões de mais de um e oitenta de altura.
- Para mim vão ser sempre as minhas crianças. Mas Rê a minha namorada detesta adolescente, como é que eu vou fazer?
- Isso é problema dela. Se ela tivesse bom gosto ia preferir um adolescente ao pai deles, caindo aos pedaços. ]
- Também não precisa ofender, né, Rê? - E a cama do casal vai ficar com quem?
- Bom, a cama é que é o problema Zeca. Se você a levar vai acabar se lembrando de mim e de todas as loucuras que fizemos nela e aí vai brochar, na certa.
- Ih...Rê, já vem você rogando praga outra vez.
- Não estou rogando praga, mas vai me dizer que você também não pensou nos nossos momentos de loucura naquela cama? Se ela falasse heim...
- Não muda de assunto não. Estamos falando de separação e não de sacanagem, Rê.
- Tá bom. Vamos dar uma paradinha pro jantar e depois continuamos.
- O que é que tem pro jantar? - Tem aquele empadão de queijo que você adora, aquela carne assada com molho ferrugem e mousse de morangos que a Maria fez, especialmente, para a sua despedida.
- Por falar em Maria, ela vai comigo viu Rê?
- Mas nem pensar em semelhante tolice, Zeca., vamos chamar a Maria e ela decide. - Mariiiiiiiia! Vem cá depressa.
- Não me metam nessa confusão d’ocês. Eu já tô aqui faz tempo e essa história de separa não separa é mais veia que o rascunho da “bribria”. Vê se ocês toma vergonha e para com essa brigaiada toda por causa dessas tralhas que ocês tem, viu?
- Sabe, Rê, acho que a Maria tem razão. Vamos fazer as pazes?
E assim viveram por mais três meses, começando tudo de novo na entrada do verão.
Falar em fim quase sempre é triste. No entanto, o fim de uma fase é o começo de outra. Por que, no entanto, ficamos com medo de recomeçar? Quem pode saber se esse novo começar será melhor ou pior do que o outro? Quando temos que tomar uma decisão como é a separação, mil perguntas nos vêm à cabeça. O mais trágico, se não fosse, muitas das vezes, cômico, é o momento da divisão dos bens. Nessa hora se tem oportunidade de conhecer um pouquinho melhor o caráter do ser ex-amado.
- Bom, já que é pra separar, vamos dividir as nossas coisas – diz Regininha.
- É pra já. Dessa vez eu me livro dessa mesa horrorosa que a tua tia Cora te deu – responde José.
]- Você não tem a menor sensibilidade para arte, Zé.
- Eu fico com o cachorro.
Não, queridinho, o Fedido é meu. Sou eu quem sempre cuidou dele desde que ele chegou, cheio de pulgas. Sou eu que lhe dou comida, que lhe dou remédio e banho. Eu sou a verdadeira mãe do Fedido. Se você quiser levar o papagaio, que é grosso como você, com todos aqueles palavrões que formam o seu repertório, eu não me oponho.
- Coitado do Tirano! Ele só aprendeu esses palavrões todos depois que a tua mãe veio passar as férias conosco e a tua velha não dispensa umas palavrinhas cabeludas.
- Não mete a minha mãe nessa história, Regininha. Ela já está no ceu.
-No inferno, você quis dizer, para onde, aliás, você vai também quando morrer.
- Não muda de assunto não. Vamos continuar a divisão.
- Quer dizer que você não abre mão do cachorro. Pois muito bem. Vou ensinar o Fedido a te morder e você vai se arrepender pro resto da vida.
- Eu fico com o sofá.
- Só se for com as almofadas porque a estrutura é minha. Fui eu que bolei.
- E o que é que eu vou fazer com as almofadas sem a estrutura, Regininha?
- Ah, isso eu não sei. É problema seu. Não mandei separar.
-Tá. Eu te dou o sofá completo e você me dá o colchão ortopédico.
- Mas é muito engraçadinho! Eu com a coluna doendo a noite toda pra você se deliciar com “a outra”? Era só o que me faltava!
- O vidro de Novalgina pode ir deixando aí. Quem comprou fui eu.
- Deixa de ser mãe de vaca, mulher! Deixa pra mim que vou ter a maior dor de cabeça com esse divórcio.
- Tá. Eu deixo, mas a geladeira é minha e o aparelho de ar condicionado também.
- Não me diga, gracinha. Quer dizer que eu morro de calor e de sede enquanto você toma aguinha gelada e dorme no fresquinho? Não me faltava mais nada.
- Então tá. Você fica com a geladeira e eu com o ar.
- Não. Eu com o ar e você com a geladeira.
- Assim não dá. Não vamos chegar a um acordo nunquinha! - Quanto aos meninos, Regininha, você pode ficar com eles. Leva os oito com você porque você tem mais paciência.
- Mas nem pensar em semelhante asneira, Zequinha, as crianças ficam com você. Não sei se o meu novo marido vai gostar deles e eu detestaria que alguém maltratasse os meus filhinhos.
- Mas que filhinhos que mané filhinhos! Uns marmanjões de mais de um e oitenta de altura.
- Para mim vão ser sempre as minhas crianças. Mas Rê a minha namorada detesta adolescente, como é que eu vou fazer?
- Isso é problema dela. Se ela tivesse bom gosto ia preferir um adolescente ao pai deles, caindo aos pedaços. ]
- Também não precisa ofender, né, Rê? - E a cama do casal vai ficar com quem?
- Bom, a cama é que é o problema Zeca. Se você a levar vai acabar se lembrando de mim e de todas as loucuras que fizemos nela e aí vai brochar, na certa.
- Ih...Rê, já vem você rogando praga outra vez.
- Não estou rogando praga, mas vai me dizer que você também não pensou nos nossos momentos de loucura naquela cama? Se ela falasse heim...
- Não muda de assunto não. Estamos falando de separação e não de sacanagem, Rê.
- Tá bom. Vamos dar uma paradinha pro jantar e depois continuamos.
- O que é que tem pro jantar? - Tem aquele empadão de queijo que você adora, aquela carne assada com molho ferrugem e mousse de morangos que a Maria fez, especialmente, para a sua despedida.
- Por falar em Maria, ela vai comigo viu Rê?
- Mas nem pensar em semelhante tolice, Zeca., vamos chamar a Maria e ela decide. - Mariiiiiiiia! Vem cá depressa.
- Não me metam nessa confusão d’ocês. Eu já tô aqui faz tempo e essa história de separa não separa é mais veia que o rascunho da “bribria”. Vê se ocês toma vergonha e para com essa brigaiada toda por causa dessas tralhas que ocês tem, viu?
- Sabe, Rê, acho que a Maria tem razão. Vamos fazer as pazes?
E assim viveram por mais três meses, começando tudo de novo na entrada do verão.