Os Becos por onde andei. 
Por Carlos Sena e



Becos. Ah, os becos da minha infância. Penso que as cidades não existiriam sem os becos. Eles são assim como "limbo" para as coisas do nosso medo e da nossa ambição, sem falar que eles são (ou foram?) os palcos dos nossos primeiros amassos no escurinho. Beco, no geral, é lúgubre na sua composição, mas escrachado na nossa mistificação. A gente sempre tem medo, por exemplo, de passar no beco altas horas da noite. Pensamos que a qualquer momento algo vai surgir da "moita" e Uau! 
Beco de interior é diferente de muitos becos da capital. Os becos do Recife, por exemplo, jamais terão a sociologia do beco de Dr Raul lá em Bom Conselho. Hoje ele é super requisitado: forró no beco, carnaval no beco, tudo lá se promove. No meu tempo esse beco era igual a lua: só era dos namorados. Democrático, aquele, beco. Se aqueles postes falassem, sempre iriam dizer que nunca suas luzes eram acesas. E que poucos eram os cachorros a mijar sobre eles. Os  postes dos becos são (ou eram) para se encostar e se esfregar, ora direis! Eu gostava também do beco do Corredor. Tinha, de fato, medo de passar por lá tarde da noite. Havia outros tantos becos na minha terra, inclusive os "sem saída"! Como se vê, a gente também imita os becos, pois várias vezes ficamos sem saída em nossos becos existenciais. 
No RECIFE os becos, são de Baco em sua grande maioria, pois tem um bar em cada esquina. Uma birosca, a bem da verdade. Um dos mais famosos é o da Fome na Boa Vista e do Veado que fica entre o Pátio de São Pedro e a rua das Calçadas. Em casa Amarela há becos famosos como o Beco da Foice e o Beco do Quiabo. Famosos também no Recife são o Beco do Queijo, do Esparadrapo, do Marroquim, bem como o Beco O Passa Quatro - tinha dois metros de largura só passavam por ele quatro pessoas por vez. Ve-se que são histórias imensas a dar com o pau. 
Mas, como se percebe as histórias dos becos são mesmas muito misturadas com o sentimento de boêmia e lascívia e noite. Um beco durante o dia é uma coisa, à noite, outra. 
Nesse passar pela imaginação dos becos, vejo que sempre que entramos num beco sem saída encontramos sua saída nele mesmo. Os becos que estão dentro de nós nem sempre. Beco é beco e Baco é Baco. Tá Baco? Ou tá Beco?