Animais e Vegetais; comer ou não comer?
Desde minha infância sinto imensa pena dos animais que nos servem de alimento. Conforme sabemos, saindo-se do plano da sobrevivência humana e passando para a de outros bichos, o processo alimentar da maioria deles (ao menos dos mais conhecidos), também passa pela degustação do companheiro mais fraco ou desavisado: O leão come o Antílope, o peixe maior come o menor, o gato come o pássaro, o pássaro come a mariposa, a lagartixa come a aranha, a aranha come a mosca e assim vai. Se houver chance, muitos animais também nos comem, literalmente. Desde mosquitos, pernilongos e bernes - passando pelos de maior porte como o Crocodilo, por exemplo – até os vermes. Esses últimos nos degustam, preferencialmente a partir de base operacional instalada no aparelho digestivo, mas nos banqueteiam mesmo é depois que morremos se não formos cremados. Voltando ao início - minha infância e meu compadecimento - cresci e atravessei décadas pensando na possibilidade de me libertar desses hábitos de comer animais ou derivados, costumes herdados de nossos antepassados, desde os mais longínquos até os mais recentes. Devo dizer que o que fazia com que eu cogitasse uma mudança alimentar radical, era única e exclusivamente o meu compadecimento, aliado à consciência e reconhecimento de que todo animal tem tanto direito à vida quanto qualquer outro animal, aí incluídos nós, seres humanos. Por isso me parecia contraditório comê-los. Alternativa: Comer exclusivamente vegetais. Porém o dilema persistiu frente à consciência e constatação de que, para se produzir alface, ou trigo, ou arroz, ou soja, ou amendoim, ou frutos, ou seja lá o vegetal que for, ceifam-se vidas animais, do mesmo modo e, até, em quantidades maiores do que nos casos de produção alimentar animal. Ou acaso as minhocas, os pulgões, os gafanhotos, os louva deus, as joaninhas, os répteis, os batráquios e tantos outros ilustres membros do reino animal não são detentores do mesmo direito à vida que têm o restante dos membros da fauna? Se eu comer um pé de alface, um quilo de trigo ou de arroz que, para serem produzidos, aqueles que o fizeram, consciente ou inconscientemente, tiveram que ceifar vidas de animaizinhos inocentes, eu me sinto corresponsável e cúmplice dessas mortes. Embora possa não parecer, estou falando sério e sendo absolutamente verdadeiro e honesto em meus argumentos. O fato é que, concluo, dentro do meu preceito de que todos animais - sem distinção - tem igual direito à vida, não há saída: dependemos, de um modo ou de outro, do sacrifício de algumas vidas para que subsistamos. Então só resta, ao menos no que me diz respeito, ser grato a esses inúmeros animais que nos servem de alimento ou que, perdendo suas vidas, proporcionam sua produção. Além de condenar e se possível lutar contra maus tratos desnecessários a que são submetidos com frequência, principalmente decorrentes da insensibilidade humana e da ganância desenfreada pelo lucro. Até quando eu possa retribuir, aos animais ditos “irracionais”, um pouco do tanto que já me deram e que ainda terão me dado - ao menos através de meu corpo e minha carne que hão de servir de repasto aos vermes após minha morte; seguirei respeitosamente saboreando meu churrasco de vez em quando, meu pão, meu arroz e minha salada de alface. Sem culpa e sem remorsos.
Nelson S Oliveira