VOVÓ MIRALDA E A DEMÊNCIA

Vovó Miralda apresentara um quadro de demência. A medicina queria estudar a macróbia, mesmo antes dela “bater a caçoleta”, ou melhor, antes do financiamento da cova no “loteamento dos calcanhares juntos”. A doença, fizera a megera se sentir a própria câmara dos deputados. Só funcionava nas terças e nas quartas. Nos demais dias, não precisa nem informar, parecia até revoada de andorinhas tomando os mais diversos rumos.

Problema de memória da macróbia atingira níveis alarmantes. O comportamento demente da vovó fizera alguns estragos na TV. Em todos os jornais e programas de fofoca noticiara que ela roubara gravatas em uma loja chique para presentear um rabino; que roubara vasos ornamentais em um cemitério em São Paulo; que ficara calada diante do aumento de salários do executivo e do legislativo, por causa da visitinha do papa Bento XVI.

Para completar a “festa do malandro”, apresentara problemas nas juntas homocinéticas, o que dificultara o “joguinho de bocha” com as amigas. Na véspera do natal, a demência fizera a vovó demitir a secretaria Zuleika.

- Zuleika, você está “demetida”! Falara vovó.

- Como assim dona Miralda?

- Isso mesmo! “Dimanhã”, não precisa nem voltar!

- Tudo bem! Falara a humilde Zuleika.

A demissão não é tão simples de agüentar. Ainda mais na época natalina. É de cortar o coração. Entretanto, o mundo não desabara sobre a Zuleika. Ela conhecia bem a vovó e assistira todo a serie de programas do Dr Drauzio Varella no Fantástico (sabia com lidar com dementes). A macróbia levara Zuleika até a porta. Nem se despedira e ainda com ar debochado (igualzinho ao nosso “deputado - estilista”), fechara a porta na cara dela.

Passado algumas horas, vovó escutara umas batidas na porta.

- A senhora está precisando de empregada? Falou a forasteira.

- Como você sabe? Mandei a minha embora! Pode começar agorinha se você quiser. Falou a vovó com uma grande folga nas juntas homocinéticas.

Lá estava a nova empregada com os afazeres domésticos. Pouco tempo depois, a vovó me comunicara que a Zuleika “se escafedeu”. Que não gostara mais dos seus serviços e que ela também não desgrudara os olhos da TV aos domingos (Eram os “vídeos incríveis” do Dr Drauzio Varrella). Vovó queria assistir o programa do Pânico na TV e não o global. Olhei para os lados e vira a Zuleika preparando o almoço na cozinha.

Perguntei imediatamente a vovó:

- Como assim vovó?

- Bem mandei, ela embora e contratei está novata. Fiquei calado e a vovó prosseguia.

- Ah! Ela faz tudo direito, não precisei ensinar nada. Ela sabe onde estão as minhas coisas e meus remédios.

Passado alguns dias, a Zuleika contou-me que havia rodeado o quarteirão e que em poucas horas fora contratada pela vovó.

Osório Antonio da Cunha
Enviado por Osório Antonio da Cunha em 11/05/2007
Reeditado em 14/05/2007
Código do texto: T482971
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