Motivação
Por ela devemos viver. Por ela devemos ser pacientes, transigentes, elegantes; o motivo pelo qual nossos dias se sucedem, percebendo neles a importância de produzir algo bom e útil.
Por ela, e por nada mais, devemos viver plenamente, intensamente, amorosamente, espalhando nossa humanidade sem reservas; por ela devemos acordar gratos toda manhã e, ao nos deitarmos, termos a certeza de um sono reparador e tranquilo à espera de mais um dia de paz.
Por ela, e apenas ela, devemos escolher o bom e o belo, e o que não for bom ou belo assim torná-lo com nosso olhar mais carinhoso. Aprender sempre, recuar nunca, sentir tudo, desprezar nada. Viver da melhor forma, sem rancores, sem conflitos; ajudar, cuidar, atender, amar. E ver significado em todas as coisas.
Porque ela vai chegar (e jamais poderemos saber quando) é que precisamos estar sempre prontos, preparados - trazendo nas mãos, bem embalada em celofane e fita, uma vida rica, plena de sentido e realizações.
Porque ela vai chegar e pode tornar nossa existência um rápido sopro é que urge que sejamos felizes hoje, tirando de nosso coração todas as mágoas, ciúmes, invejas, prepotências. Por nos dizer que tudo vai acabar da mesma forma para todos, sem exceção, podemos nos aprimorar sempre, tornando-nos seres humanos melhores a cada dia.
Por ser nossa única certeza, a morte deveria a grande motivação para a vida.
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Canto para minha morte
(Raul Seixas)
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar Vestida de cetim
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo
Mas tenho que encontrar
Vem mas demore a chegar
Eu te detesto e amo
Morte, morte, morte que talvez
Seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas... um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal aplicada
A vida mal vivida
A ferida mal curada
A dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido
Ou até, quem sabe,
O escorregão idiota num dia de sol
A cabeça no meio-fio Ó morte, tu que és tão forte
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres
Me buscar
Que meu corpo seja cremado
E que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem
Nos meus filhos
Na palavra rude que eu disse para alguém
Que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber Aquela noite...
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Este texto faz parte do Exercício Criativo "O que te move?"
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