ANIMAL ANIMAIS
e souza
Os maus tratos aos animais sempre existiu, a diferença é que hoje temos a tecnologia, câmeras e outros equipamentos e mais a consciência humana estão nos possibilitando identificar facínoras que cometem atrocidades aos nossos companheiros, os bichinhos filhos da nossa terra. No ano de 2003, era radialista em uma emissora do litoral Sul Paulista, saía da rádio às oito da manhã e fui a pé para casa, passei na padaria onde bebi um café com pão e manteiga na chapa. No caminho de casa em uma rua tranquila encontrei um bichinho andando com dificuldade pela margem direita da rua, eu não fazia idéia que animal era aquele, muito grande para ser um rato e pequeno para ser um coelho, o fossinho era comprido e tinha presas enormes na frente. Fui em sua direção, e o bicho não parou de andar à minha frente, ele machucado em ambos os lados do corpinho magro. A maçã que trazia em minha mochila, parti ao meio e a ofereci, mas o bicho quis primeiro beber água e depois comeu a fruta. Fiquei por ali sem saber o que fazer. A rua começou a ficar um pouco mais movimentada. Liguei para o Corpo de Bombeiros da cidade e me responderam que não havia viatura para aquela ocorrência, depois para a Policia Ambiental, responderam que a única viatura estava em uma ocorrência e que assim que disponível ela me atenderia. A rua foi ficando cheia de gente, a coisa começou a ficar complicada, comecei a proteger o bicho, haviam uns caras querendo levar o bicho para comer no almoço e eu não deixei. Tinha uma mulher que dizia: “eu não tenho mistura em casa e vo levá o bicho”. – Não vai não, eu já chamei a policia. Um sujeito que estava à minha direita soltou uma gargalhada e todos começaram a rir e ele disse: “polícia?! Esses caras não cuida nem de gente, vai cuidar de bicho?! Um senhor, vou chamá-lo de Felipe, ligou para a policia e para todos os amigos para que ligassem também e quando eu me apresentei o homem me deu um abraço e disse: “eu queria mesmo te conhecer, acompanho seus programas.” Agradeci e sabia que dali para frente eu teria aliados. Liguei para a rádio e pedi ao Celso Lima, na época diretor da emissora para ele narrar o que acontecia e pedi ajuda para o bicho. Em dez minutos apareceu Policia Ambiental, uma viatura de área, e o Corpo de Bombeiros com um caminhão enorme. Não sei prá que! Um dos policiais me deu um abraço e disse que acompanhava meu programa pela manhã, algumas pessoas me cumprimentaram e até pediram músicas para o dia seguinte, eu anotei alguns pedidos. Nossa, quanta gente me escuta, quase cinco! Mas já era alguma coisa. Os policiais colocaram o Saruê dentro de uma gaiola e seguimos escoltados por outros policiais em outra viatura, fomos até uma clínica veterinária, Dra. Ana, que me pediu para não dizer seu nome na rádio, alguns policiais também me pediram o mesmo, por mim tudo bem, o importante era o bicho. A médica nos informou a todo instante dos procedimentos adotados, ela chamou um especialista que veio de Peruíbe para atender o Saruê. Mas as onze horas e vinte minutos o bicho não resistiu, ele estava com perfurações em ambos os pulmões e foram feitas provavelmente pelos dentes de um cão muito grande. Os médicos fizeram de tudo, eu estava lá às oito e trinta, com uma maçã e uma garrafinha de água, o homem que me emprestou o celular, a ajuda daqueles que não deixaram que o bicho fosse levado para virar almoço, os policiais, a veterinária, o médico que viajou só para atender o bicho, tudo facilitou o socorro. Agradeci pessoalmente a todos e no dia seguinte pelas ondas do rádio, o policial Almeida me permitiu dizer seu nome no ar. Parabéns aquelas pessoas que de um modo ou de outro, anonimamente ou não, cuidam e preservam e se importam com alguns seres que precisam de ajuda.
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