SERÁ QUE A HUMANIDADE CAMINHA ASSIM?

e souza

Algumas pessoas se dizem tão ‘conectadas’ às redes sociais, seja no Face, WhatsApp, YouTube, Orkut, Google, Viber, etc. Mesmo com tudo isso as pessoas estão cada vez mais solitárias e trancadas em suas conchas, sobrevivemos blindados de tal forma que quando nos deparamos com alguém deitado, dormindo nas calçadas, sob viadutos, jogados, cobertos com caixas de papelão, simplesmente viramos o rosto para o lado oposto. Nas ruas quando um mendigo nos pede uma moeda, desviamos o olhar, ou fingimos não escutar, seguimos impassíveis, talvez estas ações nos deem segurança, e talvez se ‘eu’ fingir que não vi, vou me sentir muito menos culpado pela desgraça alheia. Não sermos abordados por aqueles indesejáveis, nos fará menos vulneráveis nas ruas, avenidas, nos parques, nos bares, nas estações do metrô, nos pontos de ônibus e nos portões de nossas conchas, pois nossos problemas são bem maiores e temos certamente coisas mais importantes para pensar ao invés de tentarmos resolver os problemas dos outros que de certa forma não fazem parte do nosso meio. Talvez o ato, o simples ato de não olharmos para baixo nos torne menos presente e nos faça intocáveis. Segurança do isolamento. Presenciei um acidente sem grandes proporções; um homem de aproximadamente sessenta anos caminhava por uma avenida, empurrando um carrinho de mão, na verdade uma barraquinha com cobertura de plástico na cor azul e ao passar por uma fila dupla de carros foi pego por um ônibus que passava em sua lateral, o espelho retrovisor lado direito, bateu na ponta de um dos ferros da cobertura da barraquinha, aquela barra de ferro com o impacto girou cento e oitenta graus e acertou a cabeça daquele senhor, fez um ferimento considerável lado esquerdo acima da orelha do homem. Algumas pessoas pararam para socorrê-lo, mas o homem continuou em pé e segurando seu instrumento de trabalho, o ônibus parou e seu condutor desceu para prestar um mínimo de socorro ou solidariedade. O que me causou estranheza foi alguns passageiros do coletivo que debruçaram nas janelas e gritavam: “vamos logo motorista, não aconteceu nada!” Mas o homem que foi atingido pela barra de ferro estava sangrando muito. Algumas pessoas só pararam alguns segundos para olhar, e eu presumo, para saber o que houve e ter o que contar em casa ou no bar com os amigos. Duas moças ficaram conversando com aquele senhor, o condutor do coletivo insistiu para que ele fosse ao pronto socorro, mas o homem balançava a cabeça negativamente e algumas pessoas continuavam gritando nas janelas: “motorista anda logo to atrasado!” Sem se darem conta talvez da dor que o acidentado sentia, e ele continuou a recusar o socorro que o motorista insistia em prestar. Por fim o condutor voltou para o volante e foi embora, as duas moças tentaram de todas as formas fazer o homem ter um socorro, mas ele irredutível negou o tempo todo e foi saindo empurrando aquele carrinho. Não vou negar, fiquei ali parado olhando aquele homem sair empurrando seu carrinho e ir embora, as pessoas continuaram passando por mim na calçada, até que percebi que já estava atrapalhando o fluxo de pessoas. Creiam, não sei se aprendi alguma coisa com essa situação, mas foi um pouco difícil sair dali andando como se nada houvesse ocorrido, e o homem já ia longe e eu continuei meu caminho. Talvez aquelas pessoas dentro do ônibus estivessem mesmo com pressa, talvez tenham dado um duro danado o dia todo e queriam ir para suas casas, afinal as pessoas possuem família, filhos que os esperavam em casa, talvez tivessem indo para seus trabalhos, e sabe como é chefe, nenhum perdoa atrasos, talvez a fome tivesse pressa, bem, o motorista não se importou muito com aquela parada de cinco minutos e voltou para o ônibus e partiu, afinal ele também tem horário e contas a pagar. Talvez eu tenha aprendido que não vale à pena esperar socorro ou o que o valha. Penso, as pessoas andam tão descrentes com os serviços públicos que não vale a pena submetermos a eles e assim continuarem vivendo até quando puder. Por fim, será que precisamos nos preocupar com coisinhas tão pequenas? Este ano 2014 é um ano impar, teremos copa do mundo, eleições e sabe-se Deus o que mais! Certas pessoas não estão preocupadas com saúde, educação, transporte, etc., pois “eles” dizem: o que precisamos é de copa do mundo. Outro dia um perfeito idiota disse que a morte do operário naquela porcaria de estádio da Zona Leste que “era uma coisa normal”, claro que sim, a saúde no nosso país é padrão FIFA, a educação é padrão FIFA, a segurança é padrão FIFA, chego a conclusão; só o que não é padrão FIFA há muito tempo é o escárnio de muitas caras e pouca vergonha. É isso aí.

e-mail: edsontomazdesouza@gmail.com

E Souza
Enviado por E Souza em 01/06/2014
Reeditado em 04/01/2015
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