BRIGA GRAMATICAL

Passeava a vírgula por uma frase qualquer quando cruzou com o soberbo ponto, olhar distante, orgulhoso.

- Tá se achando, hem?

- Ora, quem me ousa dirigir a palavra, a vírgula, essa insignificante.

- Pois é, e no entanto está aí a prova da minha importância, na sua frase. Você me usou duas vezes.

- Ponha-se em seu lugar, ser desprezível.

Foi quando ouviu-se um berro:

- Que barulho é este? - Era o ponto de interrogação, sempre cheio de dúvidas.

Vírgula e ponto continuaram a discussão.

- Matar o ponto não é crime, falou a vírgula.

- Como assim? Vai partir para a violência?

- Claro que não. Simplesmente não me coloquei na frase. Eu quis dizer "Matar o ponto, não, é crime.

- Nossa!!! Que bela sacada da vírgula - Era o ponto de exclamação que se manifestava, como sempre, espalhafatoso.

Eu acho que... Sei lá... disseram as reticências misteriosas.

Nisso surgiram as aspas, sempre juntas que também queriam se manifestar sobre o assunto:

- Nós também somos importantes. Quando alguém quer dizer algo em sentido figurado usam-nos.

- Fujam, suas loucas, falou o desvairado ponto de exclamação. Vocês não conseguem cuidar nem de suas vidas amorosas. Olhem estes chifrinhos, completou cheio de maldade.

-O asterisco que passava, cabelos espalhados ao vento, olhou de soslaio para aquela turma que discutia tão acaloradamente. Andava com a autoestima muito baixa e resolveu ficar calado. Ansiava, como diriam as aspas, por uma "escova", no salão de beleza para ajeitar aquela cabeleira rebelde.

Foi quando surgiu na esquina a crase, aquela incompreendida.

- Mon Dieu! Lá vem a crase, com suas complicações.

- Ah, nem é tão difícil assim. Na maioria das vezes é só ver se ela pode ser substituída por "na" ou "para a", disse o ponto.

- Verdade? - Adivinhem quem é que novamente estava tão interrogativo.

- E aquele infeliz do ponto e vírgula, alguém pode explicar para que serve? E os dois pontos?

- Calma, ponto de interrogação. O ponto e vírgula não é um, como diria?

- "João Ninguem", respondeu as aspas.

- Você esqueceu de mim, aspas. NINGUÉM leva o meu acento; o acento agudo. As oxítonas terminada em "em" levam acento agudo.

- Olha só! E ele usou o ponto e vírgula, completou o ponto.

- E aquele sujeito de chapéu quem é? Perguntou o ponto de interrogação, sempre cheio de dúvidas.

- Ah?

- Ah! É o acento circunflexo, amigo das proparoxítonas.

- Vejam só: Estas duas letrinhas, a e h. Juntas elas podem ser uma expressão interrogativa ou uma exclamação afirmativa. Basta trocar os pontos.

- Porque na pergunta o porque é junto e na resposta o por que é separado? Alguém pode me explicar o porquê? Ah?

- Ah! Espera aí, ponto de interrogação. Aí você está se referindo a palavras e não à pontuação, afirmou o ponto.

E dono que era do ponto final deu por encerrado o assunto,

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 01/06/2014
Reeditado em 21/06/2014
Código do texto: T4828813
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