Positivo

Ainda o sol não havia aparecido, mas o quarto já estava se tornando lentamente mais claro. Estava parada, olhando o teto, alisando a minha barriga. Não conseguia sentir nada. Há algo para sentir em menos de um mês? Não para mim. Imaginei como seria a sensação de segurá-lo em meus braços ou acariciar seu rosto. Nada. Ou minha imaginação me abandonou justamente naquele momento, ou minha mente se recusava a acreditar que meu corpo estava mudando. Forcei minha imaginação à presença dele, nada, nem daqui a um ano nem daqui a dez. Eu simplesmente não conseguia me imaginar mãe. Como poderia, se o termo família sempre foi abstrato para mim?

Não aguentando mais a curiosidade, peguei o telefone e liguei para o pai. Preciso de você. Não consigo mais nem dormir. Não sei o que está acontecendo comigo, mas acho que estou grávida. Não é certeza. Apenas acho. Será possível? Será que depois de tudo o que eu passei é assim que as coisas vão acontecer comigo?

Ele chega no portão. Nem me avisou que vinha. Estava curioso, não consegui aguentar. Trouxe o teste.

Fujo para o banheiro e na solidão daquele espaço me preparo para o futuro. Claro que ainda é incerto mas mudará minha vida. Como não? Mas ainda assim rezo para estar errada. Não que algum deus já tenha respondido minhas preces, mas a força do hábito e do medo me fizeram fraquejar.

Positivo.

Luna Gerst
Enviado por Luna Gerst em 31/05/2014
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