VIAGEM À LUA - Crônicas Familiares
18.01.2014, aproximadamente 12:55 hs. Eu preparo e, a seguir, sirvo almoço para mim e netos que estão em passeio na minha casa: Otávio de 5 anos, Laura de 8 e Isadora de 10. Enquanto comemos, tagarelice geral, como sempre nessas ocasiões. Como em breve eles devem se mudar de Curitiba Para Florianópolis-SC, começo a perguntar, meio de palhaçada, sobre Santa
Catarina:
- Então quer dizer que vão mesmo pra Santa Catarina?
- É vô. A gente vai mesmo, responde a mais velha, Isadora.
- Mas me digam uma coisa: essa tal de Catarina, será que é santa mesmo ou é só conversa? Eu não acredito muito que essa tal de Catarina seja santa.
Entra em cena a Laura: - Ih vô!! Você não conhece Santa Catarina! Você não sabe de nada mesmo!
- Como não sei de nada? É claro que conheço Santa Catarina.
- Conhece Florianópolis? - pergunta Laura.
- Claro! Tá pensando o quê? Conheço Florianópolis, a Ponte Hercílio Luz, tudo...
- Conhece as praias? – prossegue Laura, enquanto os outros só prestam atenção com os olhos presos em mim.
-Conheço as praias, conheço as ilhas, os peixes, as baleias, os pescadores, um monte de pessoas, conheço tudo. Aliás, eu conheço muita coisa que vocês não sabem. Conheço centenas de cidades do Brasil Inteiro. Conheço vários países. Pra dizer bem a verdade conheço todos os países e todos os lugares que existem na Terra. Tenho amigos espalhados por todos os cantos do mundo. Tão achando o quê!?!?
- Ih! O vô pirou! Comenta Laura, provocando gargalhadas nos irmãos.
- E tem mais, conheço não só a Terra, já viajei até à Lua, se é que vocês ainda não sabem.
- Que Lua vô?!?!? Não sei quando! (sempre a Laura)
-Muitos anos atrás, quando morei nos Estados Unidos, os americanos iam lançar um foguete à Lua e eu tentei uma vaga pra viajar com os astronautas, pois meu sonho era conhecer a Lua bem de pertinho, mas o motorista do foguete não quis me vender uma passagem. Aí eu me disfarcei de faxineiro, na véspera do lançamento. Me apresentei com um balde d’água, detergente, vassoura, panos, água sanitária, uns rolos de papel higiênico e outros apetrechos, falei que ia fazer uma faxina no foguete e me escondi dentro da capsula principal. No dia seguinte lançaram o foguete, sem perceber que eu estava lá dentro escondido. Os astronautas só me descobriram depois que o foguete atracou na Lua. Aí já não adiantava mais nada, e tiveram que me aceitar.
A essa altura, evidentemente, Isadora, Laura e Otávio já sabem se tratar de mais uma de minhas muitas mentiras sobre supostas aventuras, mas já estão com os olhinhos arregalados, esperando a sequência da estória e o desfecho. Mastigo um pouco de comida, tomo um gole de suco, para ganhar tempo e pensar numa sequência minimamente plausível para a estória, pois, quando ocorrem esses momentos , é tudo na base do improviso.
- E daí vô? O que aconteceu? Como era a Lua? O que você fez? Você andou na Lua? Crivaram-me de perguntas os três, ansiosos e interessados.
Prossegui:
-Bem, era um lugar meio estranho, escuro e cheio de enormes buracos no chão, que a gente chama de crateras...
-Isso, vô ... eu já vi isso eu acho que num livro, que o nome desses buracos que tem na Lua é cratera, ratifica Laura.
- Então...resolvi explorar uma dessas crateras, quem sabe eu encontrasse por lá algum lunático, que como vocês devem saber, lunáticos são os habitantes da lua, e os lunáticos gostam de se esconder nas crateras.
- Lunático eu acho que é você vô, tasca a Isadora, ao mesmo tempo com humor e ironia (gargalhadas gerais).
- Assim não dá! - digo. Deixa eu contar a estória. Senão vou parar (simulo contrariedade).
-Conta, conta , conta vô. Prometo que nós vamos ficar quietinhos, pede a Laura.
-Então tá. Pois é... então eu desci até o fundo da cratera que era imensa e escura, cheia de rochas soltas, e comecei a explora-la. Dentro da cratera havia outras crateras menores, e dentro dessas menores havia outras crateras menores ainda, e dentro dessas menores ainda havia outras muito menores ainda e dentro...
-Ah vô, assim não vale. Tá enrolando, me diz a Laura.
-Tá bom Laura. Então eu vou resumir. Segui explorando aquela imensa cratera e as craterinhas que tinham dentro da imensa cratera, e as craterinhazinhas que tinhas dentro das craterinhas, e as craterinhazinhazinhas que tinham dentro da craterinhazinhas que acabei me perdendo. Fiquei vários dias perambulando, com fome, frio e sede, sem conseguir encontrar o caminho de volta à nave. Até que percebi que já devia estar quase chegando o dia e a hora em que o foguete empreenderia a viagem de volta a Terra. Eu corria o risco de ser deixado para sempre na Lua.
Mastiguei mais um pouco de comida, mais um gole de suco, ganhei tempo para arquitetar sequência para a estória. Fazer suspense, também. Nesse ínterim os três pipocaram perguntas: “E daí vô? O que aconteceu? Como é que conseguiu voltar?” Prossegui:
- Depois de muito pensar, lembrei que tinha levado meu celular num dos bolsos da calça que eu vestia. Percebi que podia ser a minha salvação. Ao mesmo tempo me deu um arrepio, de medo que estivesse com a bateria descarregada. Felizmente a bateria ainda estava com carga. Pouquinho, mas tinha. Comecei a discar, desesperadamente, para o celular do comandante do foguete, que a essa altura eu acho que até já tava pensando em me deixar na Lua mesmo. Chamava, chamava, chamava e não atendia. Só vinha a mensagem: “o número que você discou encontra-se desligado ou fora de área”. Liguei várias vezes de novo e, sempre, a mesma mensagem: “o número que você discou encontra-se desligado ou fora de área”. A bateria, a essa altura, quase acabando, fraquinha, fraquinha, fraquinha e mais uma vez tento e só vem a maldita mensagem gravada :“o número que você discou encontra-se desligado ou fora de área”. Até que, quando eu já estava até pensando em desistir, o comandante finalmente atendeu. Expliquei o que havia acontecido e lhe descrevi , mais ou menos, o caminho para que chegasse até a cratera para me resgatar. E foi assim que fui encontrado, salvo e trazido de volta à Terra.
-Ah! Essa não cola vôôô!!! Vai querer me dizer que na Lua tem sinal pra telefone celular?!?!?! Arrematou a Laura, com consciência, imaginação e humor. Faz sentido a objeção de Laura. Muito sentido.
Nelson S Oliveira
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