LEMBRAÇA II
Ainda lembro-me perfeitamente do dia em que o Otorrinolaringologista disse que eu teria que fazer operação de amígdalas.
Durante alguns anos eu sofri com uma tremenda alergia provocada pelos resíduos de uma fábrica de extração de óleo de mamona e de algodão que existia perto da minha casa.
Diariamente, logo pela manhã, havia uma seção prolongada de espirros e, por causa da coriza, eu não saía de casa sem a companhia de, pelo menos, dois lenços de pano bem grandes.
Nessa época só existia o lenço de papel Yes, muito caro e que só era encontrado nas lojas finas do centro comercial do Recife.
Por causa da fragilidade das vias respiratórias superiores, bactérias oportunistas se instalavam nas amígdalas (que atualmente receberam o simpático nome de tonsilas) e eram combatidas com as dolorosíssimas aplicações de benzetacil de um milhão e duzentas mil UI.
A partir de certa época, passei a sentir dores agudas nas pernas. Era o reumatismo que estava se instalando e antes que as consequências fossem além da hipertrofia do ventrículo esquerdo, marcaram a cirurgia.
A primeira tentativa não deu certo por causa do excesso de secreção, nova série de benzetacil e na segunda data, bem cedinho, a cirurgia foi realizada.
Apesar da anestesia ter sido local, eu dormi todo o resto do dia. Já era noite escura quando ganhei um potão com sorvete e durante todo o dia seguinte, só alimentos líquidos ou pastosos, mas todos gelados.
As amígdalas extirpadas ficaram num vidrinho, com formaldeído, e por muito tempo foi motivo de conversa dos meus pais com as pessoas que nos visitavam...