Crônicas de um dia frio
Tudo começou numa manhã fria. Era fria e tão fria que meus ossos congelavam. E minhas pernas tremendo e meus lábios cortados. Como eu jamais vira, ou melhor, sentira - eu e minha velha mania de conjugar os verbos no pretérito mais que perfeito! Algo em mim nascera naquela manhã fria. Eu nascia. Não eu "Ser humano", mas um alguém dentro de mim.
Foi como a sensação de "Primeiro voo", "Primeiro beijo", "Primeiro isso e aquilo". Sentir e não sentir. E ele me olhando.
Foi como ver um espelho avesso, que ao invés de revelar um defeito físico revela algo na alma, que eu jamais havia notado. Minha doce alma, andarilha em meu ser.
Este espelho avesso eram dois olhos, que me olhavam discretamente. E eu olhava indiscretamente. E eu me vi nascer ali. Naqueles olhos. Nem pareciam me olhar. Mas entravam dentro de mim. Não sei se me olhavam, mas eu estava lá.
Mas não me olhavam.